Percebi que a Camela Amões não estava longe do mundo, quando recebi as imagens da iluminação pública com suporte na energia solar e vi as crianças aprenderem Informática. Confirmei que o respeito pelo outro tinha sido salvaguardado quando se construíram duas igrejas distintas, uma católica e outra da IECCA, para que cada um tivesse onde depositar a sua fé. Senti fome com as fotos da cor da fruta e dos pratos veganos do Sousa Jamba. Senti orgulho com a formação em Gestão de Pequenos Negócios e a com a eficiência do Centro Médico. Assisti a vários casamentos na aldeia, onde se renovaram votos e esperanças de jovens casais e conheci, assim, novas famílias. Vi as chuvadas do mato que regaram a horta de gengibre plantada pelo Sousa Jamba. Fiquei fã dos modelos de vestidos de festa feitos pelo alfaiate-mor da aldeia e contente pelas Zebras que passeavam no mato sem medo. Amei a Montanha Lumbangombe.

Usando os seus próprios recursos, o Eng. Segunda Amões construiu dignidade para a população. Habitação, saneamento, energia eléctrica, água potável, escolas, centro médico, piscicultura, pontes, estradas, biblioteca, promoveu a cultura, as comunicações e retirou centenas de pessoas da miséria e do abandono. Encurtou a distância e uniu aldeias, promovendo o lucro das famílias que podiam, assim, escoar e vender o que produziam. Criou um programa de ajuda aos idosos, através de uma mensalidade, que fez toda a diferença na vida destas pessoas. Apoiou a equipa Desportivo Boa Esperança da Camela Amões. Do nada e em cima de escombros, criou um modelo de aldeia que a todos consegue impressionar. Gostaria de que o Sousa Jamba pegasse em toda a informação que está no seu Facebook e que a transformasse num livro que devia ser objecto de Estudo dos Ministérios, Governos Provinciais e Universidades.

Na verdade, vi o sonho de um homem que decidiu honrar a aldeia onde moravam os seus familiares, transformando-a num sítio onde passou a fazer sentido viver, construir sonhos e acreditar que sempre que há empenho a obra nasce. Sem nenhum tipo de gasto supérfluo, sem o desajustado exemplo de nenhuma Califórnia, de forma comedida e sem alarido, fui testemunha que, com honestidade e sabedoria, Angola pode ser diferente. Este homem foi o Eng. Segunda Amões, que acaba de partir, de forma prematura, sem ver o seu sonho terminado. Foram unânimes os comentários de tristeza nas redes sociais. Foi audível o aplauso, a estima e o reconhecimento por aquilo que o Eng. Segunda Amões fez na sua aldeia. Foi unânime o sentimento de que ele tinha sido um patriota, tinha amado o seu povo de forma sincera e que Angola perdeu um cidadão empenhado que conseguiu fazer a diferença pelo exemplo. Quando se tem um plano e se perspectiva, é possível fazer a diferença. Estendo a minha vénia à esposa do Eng. Segunda Amões que, de acordo com a entrevista que ouvi, o próprio disse que a esposa o tinha incentivado nesta maravilhosa empreitada e endereço a toda a família os meus sentidos pêsames.

Nunca estive na aldeia Camela Amões. Conheço várias pessoas que lá estiveram e disseram que o que viram era ainda mais bonito que as fotos do Sousa Jamba. Ficaram, sobretudo, reconhecidas pelo exemplo de respeito pela natureza que estava de mãos dadas com a urbanidade. Um dia quero conhecer esta aldeia de felicidade. No fim de cada dia, lembro-me do céu da Camela Amões nas centenas de fotos que vi. Nunca foi igual e sempre foi lindo. Ainda consigo sentir os cheiros da terra molhada depois da chuva e ouvir os risos das crianças e das mulheres. Vi felicidade no rosto de centenas de pessoas. Vi aquilo que eu gostaria de que Angola fosse hoje. Uma Angola construída com humildade e sabedoria. Uma Angola humana, coerente, educada, saudável, despretensiosa, limpa, justa, iluminada, digna e feliz.