Destruíram a alma da Pátria. Venderam-nos a preço de saldo e de forma cirúrgica. O País passou a ser frequentado por gente estranha, salteadores de fato e gravata, homens de negócios que apenas garantiam lucros privados que nunca atingiam os mais pobres. Perderam-se as gerações dos filhos que cresceram inclinados para o prejuízo colectivo, sendo o único objectivo a salvaguarda das suas famílias. A alienação instalou-se e deixamos de saber quem éramos e para onde nos estávamos a dirigir. A perda da identidade e dos valores é fatal para qualquer Nação, porque abala o sentimento de pertença, o único capaz de transmitir segurança futura. O "Homem Novo" morreu antes de nascer.

Urge, por isso, construir com urgência o HOMEM CONSCIENTE. Consciente do seu dever de cidadania, do seu papel neste País, da sua responsabilidade na educação dos filhos, para que se tornem cidadãos éticos, da sua capacidade de regenerar o ambiente, em todos os sentidos, em vez de o destruir. O HOMEM CONSCIENTE deverá ser capaz de alicerçar a consolidação de um país mais corporativo para a busca de um resultado que satisfaça a maioria das pessoas, em última análise, um país sem distorções, mais justo, mais fraterno e, sobretudo, mais humano. Para que isto aconteça, é desde logo imperativo pensar na NOVA ESCOLA voltada para o Humanismo, Lógica e Filosofia assente nos princípios elementares que são intemporais. De nada nos serve investir na Educação se ele não tiver um fim pré-definido pela governação. Que tipo de cidadãos queremos ter, obriga a desenhar um modelo de Educação que nos faça chegar lá e não continuarmos com este modelo que não é mais do que restos de coisa nenhuma e não persegue qualquer objectivo de integridade, de cidadania, de inclusão nem de sabedoria. É urgente perceber que o homem não nasce ético. A ética vai sendo construída com o seu desenvolvimento. E só a humanização é capaz de garantir a ética individual.

A Educação só é eficiente quando tem o poder de transformar um indivíduo num Homem Bom e num Cidadão Exemplar. Para que isto se materialize, temos de conseguir que os nossos Direitos se imponham à nascença. Se isto não acontecer, não seremos capazes de construir uma sociedade justa, onde impere a equidade. Daí a necessidade de medir a eficácia do sistema educativo. Estamos perante um tempo de desafios. Achille Mbembe, historiador camaronês, defende que "o principal choque da primeira metade do século XXI não será entre religiões ou civilizações. Será entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal, entre o governo das finanças e o governo do povo, entre o humanismo e o niilismo". A crescente derrota do humanismo tem uma relação directa com a perda da dignidade da democracia. Há que fazer renascer as virtudes, de forma didáctica, a exemplo do cuidado com o outro pela solidariedade, compaixão, generosidade, humildade, limites, veracidade e ética. Sem dimensão moral não teremos políticos que exerçam cargos baseados na honra e no bem comum, nem cidadãos que se construam como força de trabalho baseado no brio profissional e nas boas regras de conduta.

Infelizmente, um pouco por todo o lado o exemplo é negativo. Temos fiscais e polícias a sacar dinheiro da população, como um favor, para não multarem a infracção, transferindo para a sua conta privada o dinheiro público. Temos muitos professores, profissionais de saúde, advogados, funcionários judiciais, bancários, funcionários públicos, gestores e directores ao serviço do prejuízo e da perda de credibilidade da classe que representam. Os chefes de família ainda ostentam uma vida que não é paga com o seu salário. Estes exemplos são transferidos para os filhos. E por isso hoje as cadeias estão cheias de jovens, muitos deles licenciados, que por causa da consagração da imoralidade pública perderam os limites e tornaram-se "micheiros" em nome da vaidade e da ostentação.

É nossa obrigação fazer nascer a grandeza na liderança, seja familiar, política ou institucional. O processo de construção de uma Angola Nova é imparável porque já nos tiraram tudo, incluindo a paciência. Por sermos um país maioritariamente jovem temos o dever de olhar para este futuro com todo o cuidado, com um plano muito bem definido, sem populismo, baseado em estudos e dados realistas. Os jovens são dedicados às causas e comprometidos com o bem comum e vivem num tempo pleno de informação capaz de transformar mentalidades e de promover boas práticas. Serão os filhos deste HOMEM CONSCIENTE que poderão construir uma Angola Para Todos. Uma Angola onde o índice mais importante a ser alcançado seja o Índice da Felicidade. É que um Povo só pode ser FELIZ quando os vícios da governação desaparecem e os mínimos olímpicos da dignidade se materializam na sua vida.