Ele vai-se repercutir em todos os países individualmente considerados, quer numa lógica política, quer no modelo económico que responda aos desafios do futuro.

No que respeita a Angola, parece ser necessário ter-se em atenção que a economia viveu em recessão de 2016 a 2020. Um ligeiríssimo crescimento ocorreu em 2021, mas num quadro de crescimento geral no mundo.

A situação não foi mais grave porque sectores não-petrolíferos sustentaram a economia, particularmente no domínio da economia informal.
Factores exogéneos, sobretudo resultantes da pandemia, tiveram influência neste estado de coisas pelas medidas condicionadoras da própria economia com impacto nas empresas, mas não explicam tudo.

É necessário irmos mais atrás e situarmo-nos durante a guerra civil prolongada, em que o Estado não pode deixar de afectar grande parte das despesas públicas na Segurança e no sector militar, contando, para o efeito, com as receitas resultantes da venda do petróleo e contando ainda com financiamentos externos.
Este modelo, justificado pela guerra, deu causa, por razões que aqui não cabe desenvolver, a mecanismos que afectaram a transparência nos procedimentos económicos de relações com terceiros por parte de responsáveis que actuavam nestes sectores.

Com a institucionalização da paz, o Estado angolano assumiu-se como o principal agente da reconstrução do País, afectando vultuosos investimentos a infra-estruturas.
Sucede que, como se pode constatar, a manutenção dessas infra-estruturas indispensáveis à sua própria conservação não tiveram a atenção que deveriam ter e foram-se degradando muitíssimo.

É útil que os efeitos deste passado estejam presentes na análise do futuro, nomeadamente na necessidade de ser assegurada a manutenção das grandes infra-estruturas sob pena de ficarem comprometidas.
Com a queda do preço do petróleo, em 2014, a forte diminuição das receitas fez agravar este estado de coisas.

Daí que - e bem - quando o Presidente João Lourenço tomou posse, fez veicular a ideia que, sendo a economia um mero instrumento da politica e não um fim em si mesmo, priorizou a politica como objectivo central.

Em consequência, denunciou a corrupção e o combate a esta como forma de tornar transparentes as relações económicas, procurando responder a um novo modelo económico sustentado na diversificação da economia.

Esta orientação foi, porém, ensombrada pelo facto de a queda do preço do petróleo se ter mantido com ligeiras alterações até ao início do ano em curso, subindo significativamente com o início da guerra na Ucrânia, recriando de novo condições para que este novo ciclo que se iniciou possibilite a recriação de um novo modelo económico.

Este novo modelo parece dever assentar num quadro económico disciplinado, com sentido das prioridades e com o objectivo focado na efectiva melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, logo num desenvolvimento humano.

Para que esse desenvolvimento se assuma, como objectivo permanente, as perspectivas de crescimento económico que as instituições internacionais anunciam para os próximos dois anos, situam-se aquém do que deve ser um objectivo consensualizado por todas as forças partidárias integrando um desígnio nacional.

Sendo certo que os números não têm alma, é naturalmente diferente avaliar a possibilidade de um desenvolvimento humano ter por base um crescimento do PIB de 2 ou 3%, ou acima de um dígito.

O facto do Presidente da República, João Lourenço, ter priorizado, no inico do seu mandato, que a economia é um instrumento da política e não um fim - e bem - não duvido que perante este novo ciclo que, repito, se iniciou com a invasão da Ucrânia, faça dinamizar a concertação de esforços com base em desígnios nacionais que a todos respeitam e que estão para além dos factos causados pela espuma dos dias, por natureza conjunturais.

Este novo ciclo vai exigir respostas estratégicas de um novo modelo económico adequado à criação da riqueza numa lógica de auto-sustentabilidade do país e a sua justa repartição.
A recriação da esperança que, com a tomada de posse, o Presidente João Lourenço propiciou aos angolanos, priorizando objectivos políticos, não duvido de que serão aprofundados com novas respostas aos novos desafios neste novo ciclo, que atendam aos anseios dos angolanos no seu conjunto e que têm a ver com um desenvolvimento humano que está para além do meramente económico.

Estes são os desafios.

*(Secretário-geral da UCCLA)