Hoje quem está em frente à televisão, quem está de ouvido na rádio e de jornal ou telemóvel na mão sabe bem o que quer receber, tem a noção clara do que deve ocupar o seu tempo e o que, de facto, vai construir a sua opinião. Pode até ser hedonismo explícito se visto como doutrina moral, mas a verdade é que, nos dias que correm, o prazer e o interesse têm uma relação homogénea e transformam as coisas e os processos.

Um jornalista é aquele que recolhe a informação, investiga, analisa, produz e distribui. É aquele que tem a liberdade como parte do seu apanágio e que tem a integridade da sua profissão aliada à sua consciência.

Porém, é sabido que os conceitos do jornalismo variam de país para país. Nalgumas nações, os meios de comunicação são controlados pelo Governo e não são um corpo completamente independente. Em Angola, por mais que se tentem mascarar os papéis, todos sabem a quem serve a imprensa pública, todos sabem quem dita as regras, quem fala mais alto, quem engole em seco e quem é muleta.

Sãos anos e anos em que a romaria e o servilismo fizeram da classe jornalística um manto desconexo, sem direitos, sem voz própria, sem um estatuto respeitado, sem um contexto credível, sem estrutura consolidada.

Tudo isso catapultou a classe para um falso protagonismo, um cenário de drama e epopeia, onde uns choram e gritam e outros se riem à brava.

A indefinição de critérios, a desconstrução do rigor, os maus salários e o frequente desrespeito fazem-nos crer que o jornalismo não é uma profissão que valha a pena. E a provar estão as peças exibidas quer em horário nobre ou não, os editoriais, os comunicados deste e daquele que são tudo menos jornalismo! Para não falar da semântica e da semiótica que simplesmente não existem, enquanto parte da dimensão lógica da ciência da comunicação.

Contudo, é preciso perceber que, da mesma forma que se ousa discutir o papel do jornalista, se deve ousar pensar em quem o rege. O Jornalista é só mais uma peça do xadrez, valorizada nos grandes xeque-mates e os órgãos de comunicação social viraram uma espécie de terra de quem tem olho e é rei.

Na realidade, aqueles que foram insultados na última marcha da UNITA auguram o mesmo de quem estava a bater com o pé no asfalto de Luanda e vivem a insensatez de puxar por uma brasa que além de nem sempre ser a sua, não lhes dá conforto e abrigo.

É preciso ter a visão de que não se trata de uma classe privilegiada, não se trata sequer do 4.º poder, aquele que na América forçou a demissão de Nixon e encaminhou a saída de Trump da Casa Branca.

Aqui o espectáculo pega fogo quando a língua espreita a mordaça, até mesmo quando se trata de reivindicar melhores condições de trabalho e remuneração.

Criaram-se e institucionalizaram se as muletas, aquelas que suportam corpos cansados e doentes e que quando tudo passa são atiradas para qualquer canto, sem prestígio, dignidade ou cuidado.

Aos cidadãos, às forças políticas, vai o conselho de se frearem os ânimos. Está provado que não se erguem países com querelas e intolerância.

O exercício da democracia é o prognóstico da verdade e da sã convivência. E neste terreno fértil em tudo menos em sanidade, recorro a um velho tema dos Afra Sound Star para gritar: "RESPEITA A MULETA, RESPEITA A CICATRIZ".