Ficou claro nas imagens apoiadas pelo discurso pesado, autoritário, mas também jocoso do chefe, que o oficial, fazendo uso da sua farda, conseguiu espoliar o seu chefe, uma situação que, embora caricata, demonstra a realidade escondida em muitas ruas e estabelecimentos do País. Uma realidade que nem sempre está reflectida nos rankings de governação, mas que certamente afecta o bolso do cidadão comum.

O que não ficou claro são quais os motivos que levaram o oficial a interpelar o chefe e depois a solicitar os cinco mil kwanzas. A troco de quê? Terá sido uma rasteira aplicada pelo chefe para confirmar o que toda a gente já sabe? Terá sido uma aula prática de técnicas do uso de disfarces? Terá o chefe cometido uma infracção, uma manobra proibida em horas a abeirar a madrugada? Foi uma meia-verdade sem que fosse dada oportunidade ao acusado de se defender, embora o acto de ajoelhar-se possa ser visto como uma confissão de culpa, um reconhecimento do erro, uma solicitação de perdão ecoada rapidamente pelos seus colegas.

A "gasosa fresca" virou gasolina que "queimou" a reputação não só do acusado como também dos da sua classe. Uma nódoa que não desaparece, pois os crimes são perdoados, esquecidos ou então há dois pesos e duas medidas. Todavia, há outras questões mais profundas associadas às condições sociais dos oficiais. Será que o salário que aufere é suficiente para fazer face às suas necessidades básicas? Será que, para o trabalho nocturno e perigoso, tem as condições necessárias? Não terá sido um pedido de patrocínio para uma ceia merecida por longas horas de trabalho? Talvez nunca saibamos.

Uma coisa é certa, o oficial é muito corajoso. Talvez se houvesse menos dança das cadeiras e os nomeados ficassem mais tempo no cargo isto não acontecesse. Seriam reconhecidos à distância.