Sem a legitimidade de quem aceita submeter-se a uma disputa eleitoral democrática, a indigitada fica, assim, com o seu mandato indexado ao do Presidente angolano.

Sendo a legitimidade sempre contextual, nas actuais circunstâncias políticas do País, a ascensão de Joana Tomás fica ferida de legitimidade, essencial em processos democráticos.

Atendendo a que a escolha do Presidente foi alvo de forte contestação dentro das estruturas da OMA, é fácil perceber que uma eventual queda ou saída de João Lourenço precipitará também o afastamento de Joana Tomás.

Com mais de 50 anos de idade e vários anos de Televisão Pública, Joana Tomás percebe, certamente, que o mérito em política depende também da legitimidade política.

Assim, é ilusório pensar que novas caras, mais ou menos jovens, significam capacidade para ler e interpretar os tempos actuais, tempos de democracia, que clamam pela participação directa dos cidadãos, incluindo através do escrutínio permanente dos processos políticos do País.

Em vez de adoptar um novo paradigma conducente à sua democratização, o MPLA, um partido que se assume como social-democrata, disso, prefere a falta de transparência e lisura em processos eleitorais, dando, assim, a machadada que faltava para a descredibilização total do processo de transição política.

O MPLA, há muito em confinamento político, continua fechado, sob si mesmo, na sua própria concha, de onde não consegue sair, nem sequer para espreitar o que se passa à sua volta, no habitat de que faz parte.

O que está errado em Joana Tomás não são as suas ideias ou a falta delas, mas, sim, a forma como chega ao tão ambicionado cadeirão de secretária-geral da OMA.

A escolha de João Lourenço, atropelando abertamente estatutos e regulamentos da própria organização e o ensaio de braço de ferro, encetado pela OMA, são sintomas da fragilidade do líder.

A OMA começou, e bem, por rejeitar a decisão imposta pela liderança do partido para que Joana Tomás fosse candidata única ao cargo de secretária-geral. Desafiando a liderança do partido, as mulheres ainda ameaçaram apresentar a sua candidata, a do seu Comité Nacional, para concorrer contra Joana Tomás.

Para evitar a repetição do caso JMPLA, em que o candidato da direcção do partido saiu derrotado no Congresso de Outubro de 2019, o MPLA cortou a pluralidade pela raiz, forçando a OMA a retirar a sua candidata, a actual secretária-geral-adjunta que já estava em pré-campanha.

Na sociedade da fobocracia, o medo de perder o lugar de deputado ou outro e, consequentemente, as benesses proporcionadas por esses cargos fizerem recuar a OMA, numa atitude sem brio.

A secretária-geral cessante, Luzia Inglês Van-Dúnem, ciente das mudanças e esperando "ter mais encanto na hora da despedida", ainda tentou que a sua sucessora fosse eleita num processo que poderia ser o primeiro passo, mesmo que ténue, para a democratização da organização.

A escolha recambolesca e autoritária da nova SG da OMA em nada contribui para a coesão interna necessária e que foi determinante para os sucessos da organização que se transformou na principal alavanca eleitoral do MPLA.

Com mais de três milhões de membros, a OMA é a maior organização de mulheres do continente africano e também a principal fonte de recrutamento do MPLA.

Com boa imagem interna e grande prestígio externo, nomeadamente junto de organizações como o UNICEF e a UNESCO, que reconhecem o seu inestimável papel no processo de alfabetização, sobretudo de mulheres e raparigas, a OMA vê, assim, beliscada esse capital granjeado.

Desde a sua fundação, no início da década de 60, a aposta na alfabetização tem sido uma das prioridades da organização que tem Deolinda Rodrigues como símbolo, expoente máximo.

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