"O facto de ele (José Eduardo dos Santos) ter voltado é bom para toda a gente, não apenas para a nossa relação, mas bom para o País, bom para o partido", disse o Presidente ao FT, que assinala o tom conciliatório face ao seu predecessor, notando ao mesmo tempo que a luta contra a corrupção que João Lourenço elegeu como bandeira "causou estragos no MPLA".

"Mas há sinais de abrandamento, à medida que se aproximam as eleições do próximo ano e a necessidade de união do partido será essencial", pode ler-se no FT.

O Finantial Times destaca, no seu artigo, que João Lourenço, com congresso para escolher nova liderança para o partido marcado para Dezembro, enfrenta o desencanto da classe média urbana, que segundo alguns analistas tende a afastar-se do MPLA, e uma oposição robusta que congregou três partidos numa Frente Patriótica Unida que tem procurado capitalizar os elevados níveis de insatisfação dos angolanos com o governo.

José Eduardo dos Santos, cuja filha mais velha, Isabel dos Santos, tem sido um dos principais alvos da justiça angolana, regressou a Angola em Setembro, após ter estado 30 meses retirado em Espanha, mas sobre os motivos que o levaram a voltar nada foi divulgado oficialmente. Da Presidência angolana, também nada se ouviu sobre o assunto.

Na entrevista ao Finantial Times, João Lourenço rejeita estar a conduzir uma vingança contra Isabel dos Santos e afirma que o processo está a ser conduzido pelos tribunais e não por si.

"Ao nível partidário sempre houve o reconhecimento que existia uma corrupção galopante. Dizia isto há anos. A diferença é que antes era só conversa e nada de acção. E hoje está a ser feita a todos os níveis: contra os grandes e os pequenos", declarou João Lourenço ao Financial Times sobre a luta contra a corrupção, que tem sido a bandeira da sua governação.

Sobre a saída da empresária de Angola, João Lourenço atirou um velho ditado: "Quem não deve, não teme".

De referir que no dia em que o ex-presidente, que liderou Angola durante 38 anos, voltou, a 14 de Setembro, João Lourenço estava de visita à província do Kwanza Norte, e José Eduardo dos Santos foi recebido no aeroporto pelo Protocolo do Estado, mas sem presença de nenhum membro do Governo ou dirigente do MPLA, partido do qual é presidente emérito.

Só dois dias depois a Presidência fez saber, através da sua página do Facebook, que os dois "se saudaram mutuamente" numa conversa telefónica.

O texto do Financial Times destaca que, face à recessão económica - já no seu quinto ano - o MPLA parece mais vulnerável do que em qualquer outra altura do seu domínio de quase 50 anos em Angola, apesar de João Lourenço se mostrar confiante na vitória.

"Quanto à possibilidade de termos um mau resultado nas próximas eleições, penso que é muito remota", disse aos jornalistas, acrescentando que quem conheceu o país compreende a capacidade de resistência do MPLA.