Numa carta enviada, por "mensageiro", a partir de Barcelona, para o Presidente da Assembleia Nacional e para o presidente do Tribunal Constitucional, que foi divulgada pela sua filha e ex-deputada, Tchizé dos Santos, nas redes sociais, José Eduardo dos Santos afasta de si qualquer responsabilidade "directa" nos negócios da venda de petróleo e na compra e venda de diamantes.

Esta missiva foi, segundo foi avançado nos media nacionais e internacionais, quando ainda apenas se conhecia a sua existência mas não o seu conteúdo, pelo general Leopoldino Fragoso do Nascimento, um dos antigos homens fortes de Eduardo dos Santos.

Nela consta essencialmente uma resposta à avalanche de notícias que colocam o ex-Chefe de Estado como o grande facilitador dos negócios da sua filha, a empresária Isabel dos Santos, que tem os seus bens e contas bancárias arrestadas preventivamente em Angola pelo Tribunal Provincial de Luanda num processo movido pela PGR em nome do Estado angolano por alegadamente esta ter uma dívida de cerca de 1,1 mil milhões de dólares pendente.

E José Eduardo dos Santos diz de forma clara, no capítulo dedicado ao petróleo, que este era vendido através de "um sistema" desenvolvido no interior da petrolífera nacional quando a Sonangol era gerida por Joaquim David, que foi à época director-geral da empresa,, sendo, posteriormente continuado esse "sistema" por Manuel Vicente, como PCA, que viria a ser o seu vice-Presidente nos últimos dos 38 anos de poder, e de seguida, foi Francisco José Maria de Lemos quem deu a cara pelo "sistema".

Neste contra-ataque, José Eduardo dos Santos, explica que nenhum deste dinheiro - recorde-se que Angola é um dos maiores produtores de petróleo na África subsaariana, com uma média superior aos 1, 4 milhões de barris extraídos diariamente - passou pela sua responsabilidade directa.

E avança que, "depois de contas feitas", as receitas oriundas da venda das cargas de crude produzidas em Angola iam, "uma parte" para o Banco Nacional de Angola e "outra parte" para o Tesouro Nacional, sob controlo do ministro das Finanças, sendo que esta parte seguia para "inclusão no OGE e aprovação da Assembleia Nacional".

E o mesmo se passava, sustenta ainda na mesma carta, datada de 13 de Janeiro, divulgada pela sua filha Tchizé dos Santos depois de mostrar estranheza e indignação por esta não estar a chegar aos media como o seu pai queria que sucedesse, no sector dos diamantes.

JES explica que os diamantes eram transaccionados pela Sodiam, empresa estatal de Comercialização de Diamantes de Angola, e pela Endiama, a concessionária, em boaparte a clientes preferenciais, como admitia a legislação então em vigor e profundamente alterada com a chegada de João Lourenço ao poder, especialmente no fim da venda a clientes preferências que beneficiaram, entre outros, Isabel dos Santos, proprietária de uma joalharia de luxo suíça, a de Grisogono.

O que, segundo JES, o afasta do manuseio e controlo directo dos dinheiros provenientes deste sector estratégico, porque os tais clientes preferenciais e os restantes operadores do mercado, tinham contractos estabelecidos com a Sodiam onde se estipulava"como eram formados os preços e o sistema de pagamento".

E sublinha: "O Presidente da República não vendia nem comprava diamantes, quem disse que ele fazia isso mentiu!", lembrando que existia uma fiscalização periódica pela Assembleia Nacional sobre os resultados das vendas que chegavam ao OGE.

E conclui a missiva garantindo que "nunca" transferiu, como diz ser evidente pelo que expõe neste documento, qualquer verba para si ou qualquer outra entidade dinheiro do Estado.

"Como podem verificar destes relatos, o Presidente da República e Titular do Poder Executivo nunca transferiu para si próprio, ou para qualquer Entidade, dinheiro do Estado. Tudo o que foi dito é autêntica mentira".

Esta é a segunda vez em duas semanas que JES se dirige ao país através de uma carta, tendo, na passagem de ano, feito o mesmo para desejar um bom ano de 2020 e na qual endereçou palavras simpáticas para o seu sucessor.