O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) receia que a mudança de gestão dos órgãos de comunicação social adstritos ao Grupo Media Nova da esfera privada para o Estado - à luz de um programa de recuperação de investimentos privados feitos com fundos públicos - venha a mexer na linha editorial dos órgãos de imprensa em causa.

Há sensivelmente 12 anos, altos dirigentes ligados ao antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, fundaram a empresa privada de comunicação social Grupo Media Nova, composta por três órgãos - TV Zimbo, Rádio Mais e Jornal O País, - suportada com fundos públicos, segundo o desfecho de uma investigação levada a cabo pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Reagindo ao processo, Teixeira Cândido, secretário-geral do SJA, disse que ninguém deve ignorar o papel da TV Zimbo, sem desprimor aos outros, e ressaltou o impacto da mesma televisão para a cidadania.

O sindicalista salientou que este órgão tem revolucionado a forma de fazer jornalismo, retratando os problemas do dia-a-dia das populações, fazendo que os cidadãos se revejam na sua linha editorial. Os debates têm sido, nesta estação televisiva, mais plurais, que podemos vislumbrar várias pessoas com ideias diferentes.

"Quem põe dinheiro tem a tendência de controlar excessivamente os órgãos de comunicação social", referiu, exemplificando os órgãos públicos existentes.

"A tutela devia ser apenas pelo quesito da legalidade. Somos contra a nomeação dos conselhos de administração dos órgãos pelo Titular do Poder Executivo, uma vez que, quando são designados por confiança política, se acaba com a imparcialidade", sublinhou.

Já o jornalista Graça Campos não tem dúvidas de que as alterações a serem feitas terão reflexo na linha editorial dos órgãos em questão, sobretudo por conhecer as pessoas envolvidas, o que elas pensam e fazem.

O antigo director do extinto Semanário Angolense acrescentou que, se a linha editorial tender ao favorecimento de questões políticas, o País nada irá ganhar, tal como ontem se viu boa parte do noticiário da TV Zimbo preenchido com tropa civil do Presidente João Lourenço.

"Se for para favorecer um grupo político específico, Angola nada irá ganhar", defendeu Graça Campos. Segundo ainda este jornalista sénior, o comunicado da PGR também não é esclarecedor, pois não diz, de modo aberto, que as entidades criaram a empresa com o dinheiro do Estado, mas com o apoio institucional do Estado.

"É muito vago, mas não custa acreditar que foram recursos do Estado, prova disso é que, não havendo tais recursos, a Media Nova está a passar por dificuldades financeiras", assinalou.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)