Senhor engenheiro, por que razão deseja candidatar-se a presidente do MPLA e não dar voto de confiança ao actual presidente?

O País está a atravessar um momento de grandes mudanças no plano da democracia. Tivemos um regime monopartidário, evoluímos para o pluripartidarismo e, com essas transformações, seguiram-se outras a nível dos partidos. O MPLA, a partir de 2017, melhorou imenso em matéria de direitos concedidos aos militantes no plano da democracia interna. E um dos direitos é exactamente esse, de usufruir do direito imaterial de liberdade para apresentar candidatura aos distintos níveis. E, no caso concreto, o mais alto nível da presidência do partido, os requisitos estão aí nos estatutos.

Entretanto, há quem diga que a candidatura do senhor serve apenas para trazer a ideia de democraticidade no seio do MPLA. Será verdade?

Não é verdade. As pessoas que dizem isso não me conhecem. Eu, na maior parte das vezes que fiz intervenções públicas relativamente ao andamento da vida política do País, da economia e dos aspectos sociais, sempre tive um condão muito crítico por aquilo que antigamente escondíamos como erros, só que nós só passamos a falar dos erros agora, mas eu, em particular, já falava. Significa que aqueles que dizem isso não conhecem a minha veia crítica ao andamento da vida política no partido. E quem me conhece sabe que eu fazia críticas, muitas vezes, com o risco de ser mal compreendido. Portanto, não há nenhuma encenação. Quero estar em condições de concorrer com os outros cândidos ou com outro candidato, e, se os delegados (ao congresso) concordarem com a minha visão política espalmada na moção de estratégia, se concordarem com as minhas linhas de orientação e me elegerem presidente do partido, as pessoas hão-de dar conta que eu sou uma alternativa, que eu tinha outro caminho para sugerir ao partido. Estou em sã consciência, com responsabilidade, e a assumir uma candidatura alternativa.

Do seu ponto de vista, o que está mal no seio do partido e deseja alterar?

Muita coisa...

Como quais?

Teses. Há muitas teses no partido com as quais eu não concordo, mas cumpro-as por directivas. Cumpro-as por serem deliberações da maioria. Mas eu, enquanto minoria, não sou obrigado a concordar com elas. Se há uma deliberação, tenho de seguir as orientações por maioria de voto, embora não concorde. Assim como eu respeito a Constituição da República, embora não concorde com muita coisa que lá está. Mas eu respeito a Constituição e cumpro-a escrupulosamente.

Pode indicar algumas destas teses com as quais não concorda?

Há teses e pontos de vista também de alguns dos meus camaradas que têm poder de decisão a nível do partido. São camaradas que vieram da JMPLA, trabalhámos juntos, comungamos os mesmos valores da democracia, temos uma visão para o nosso povo, uma visão correcta; mas não é necessariamente convergente. Temos o pluralismo de opinião no MPLA, e eu sou daqueles que, até agora, se encontram na minoria. Mas vou continuar a defender as minhas teses.

Muitas pessoas alheias ao MPLA acreditam também, muito por conta do histórico do partido, que a candidatura do senhor não será validada. Não tem a mesma percepção?

Se eu não conseguir cumprir com todos os requisitos, haverá toda a razão para não ser aceite a candidatura. Se eu conseguir cumprir com todos os requisitos, não haverá razão para não ser aceite. E se ela não for aceite, recorrerei aos órgãos do partido que estão vocacionados para dirimir esse tipo de conflito, que é a Comissão de Disciplina e Auditória do partido.

E o senhor reúne os requisitos estatutários para se candidatar a presidente?

Até agora só falta um requisito, que é numérico. É técnico, não é político. Reúno todos os requisitos políticos.

O Estatuto do MPLA diz que as candidaturas a presidente devem ser suportadas por um número de militantes não inferior a dois mil, sendo 100 inscritos em cada província. O que isso significa?

Significa que o militante tem de provar que, pelo menos, é conhecido em todas as províncias do País e que os militantes do MPLA conferem alguma credibilidade à pessoa que está a propor-se ser candidato. Entretanto, é preciso ouvir, no mínimo, 100 militantes em cada uma das províncias.

Se cem indivíduos (em cada província) disserem "sim" à candidatura, significa que, naquela província, há uma representatividade mínima para que esse candidato possa avançar. E eu estou a fazer este trabalho, embora seja árduo. E nesse caso específico, creio que podemos facilitar um pouco mais se adoptarmos formas menos complicadas para fazer sentir a credibilidade do candidato junto dos militantes. Infelizmente, ainda estamos nessa fórmula que me parece... eu não diria arcaica, mas é uma fórmula muito burocrática.

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