Angola vai realizar o quinto pleito eleitoral da sua história no dia 24 de Agosto. Olhando para o "retrovisor" enquanto jornalista e cidadão que acompanhou os anteriores processos, estamos ou não diante daquele que poderá ser o processo eleitoral mais agitado do País, depois do pleito de 1992?

O que entendemos por mais agitado?! Porque há algumas coisas que ocorreram em 1992, que, desta vez, não temos, do ponto de vista da violência verbal e da tensão política, nós não temos isto hoje. Apesar de estarmos em período eleitoral, estamos longe daquela carga emocional de 1992. Agora, do ponto de vista da disputa eleitoral, da disputa do voto taco a taco, sim, parece-me muito igual ao processo eleitoral de 1992. Também acho que é diferente de 1992, em termos de propostas políticas, ainda não começou a campanha eleitoral, mas o que temos estado a assistir até agora é uma pré-campanha com muito poucas ideias. Mesmo o MPLA, que neste momento é quem lança mais ideias, lança muito na base dos projectos de betão, da obra que quer fazer, mas projectos de País, do ponto de vista do conteúdo, do que se pretende do País, do que se vai fazer, das grandes mudanças, das grandes reformas, ainda não ouvimos nada.

O que ouve sobre os projectos da oposição?

A oposição então está um bocado pior nesse sentido, porque só fala da alternância e não diz uma única ideia sobre obra nem sobre ideias para o País. Muitas pessoas dizem que temos de esperar pela campanha. Bom, então, porquê que todos os partidos decidiram fazer a pré-campanha. Deviam estar a fazer pré-campanha para alguma coisa. Mas, vamos esperar pela campanha, já estamos praticamente em Julho e, portanto, daqui a pouco tempo vai começar a campanha, mas tenho muitas dúvidas de que seja, desse ponto de vista, uma campanha rica. Parece que vamos ter uma campanha meio manca.

O MPLA tem hoje um presidente mais aberto na comunicação com a imprensa, enquanto a UNITA, no entendimento da opinião pública, tem um presidente carismático... As facetas dos líderes dos dois maiores partidos do País têm ou não criado tensão na disputa pelo voto?

Não, não. Penso que o principal elemento é o facto de a sociedade ter atingido certa maturidade política. O cidadão tem, hoje, consciência de que pode o seu voto influenciar a vida política, portanto, houve, deste ponto de vista, crescimento na abordagem e no acompanhamento que as pessoas fazem da vida política. Há mais liberdade de as pessoas exprimirem os seus sentimentos. Hoje, qualquer pessoa anda com uma bandeira [partidária] na rua sem qualquer problema. Os táxis andam sem qualquer problema com bandeiras do MPLA, da UNITA, da FNLA, portanto, há mais liberdade, há mais abertura. E, logicamente, as pessoas sentem-se mais à vontade para exprimir as suas posições. Do ponto de vista político, há o fenómeno associado ao desgaste da governação que o MPLA sofre.

Pode explicar melhor isso de desgaste da governação de que o MPLA sofre?

O tempo de poder representa um desgaste, naturalmente, em todo o lado é assim, e com o MPLA não é diferente. O facto de o MPLA ter mais de 40 anos de poder cria, hoje, algum desgaste, e, portanto, em função deste desgaste, é normal que a oposição sinta que este ano é o tal, que vai conseguir chegar lá, por isso fez uma aposta maior, acredita mais. Então, todos esses elementos permitem que as eleições tenham uma disputa mais acérrima.

O desgaste em causa não está também associado às promessas eleitorais feitas pelo próprio MPLA em anos anteriores, mas não cumpridas, como, por exemplo, um milhão de casas, em 2008, os empregos prometidos, em 2017, entre outras?

Não. Acho que não. O problema do MPLA não é propriamente não cumprir as promessas, até porque grande parte das promessas pode não ter sido cumprida integralmente, mas foi grandemente cumprida. A questão das casas não sei se chegou a um milhão, mas que o País levou uma volta muito grande em termos de casas, o Kilamba e Sequele, e muitos jovens adquiriram casas, isso levou.

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