Isaías Samakuva deixou este recado na abertura das Jornadas Parlamentares que estão a decorrer desde ontem, segunda-feira, e terminam no próximo dia 14, entre as províncias da Huíla e Cunene, onde acusou o Executivo de João Lourenço de ignorar a verdadeira dimensão dos problemas das populações destas quatro províncias austrais.

"Em cada ano, esta região só beneficia de menos de três por cento da despesa total que o Estado executa no quadro do Orçamento Geral do Estado", disse Samkuva, acrescentando a acusação de "exclusão" destas quatro províncias das prioridades do Estado.

O líder do partido do Galo Negro sublinhou ainda a ideia de que "o Governo não conhece a dimensão real dos problemas", que "não trata os angolanos todos como iguais" e que "é insensível à dignidade humana"

"Ou então é incompetente e não quer uma Angola igual para todos", concluiu.

Na opinião do presidente da UNITA, "Angola só poderá resolver os problemas locais da fome e da seca com a autonomia local das populações através da eleição das suas autarquias locais" para acabar com a "distribuição iníqua" da riqueza fomentada através da centralização do poder na capital do país, o que resulta numa barreira contra a autonomia que permitirá às para receber do Estado os recursos necessários" para executarem as decisões adequadas à sua realidade.

Defendeu ainda que, com essa autonomia, haveria vantagens em ser a administração autárquica do sul de Angola a facilitar relações entre os empresários e cooperativas angolanas e os mercados da Namíbia e África do Sul.

"O gado no Cunene não é apenas riqueza, é um dos elementos da identidade cultural dos povos. No município da Cahama encontra-se um moderno matadouro, com uma capacidade de abate de 18 mil animais/ano, que não está devidamente aproveitado, o que pode constituir uma importante oportunidade de negócio para qualquer investidor", denunciou.

Noutro ponto destacado na sua intervenção, saías Samakuva insistiu na ideia de que os debates na Assembleia Nacional devem ser transmitidos em directo na TV e na rádio.

"Se a Assembleia Nacional exprime a vontade soberana do povo, porque é que vamos permitir que uma entidade não soberana, o partido Estado, continue a bloquear a transmissão em directo das sessões parlamentares, quer a nível dos plenários, quer a nível das comissões de especialidade?", questionou, argumentando que se o ex-presidente José Eduardo dos Santos, que havia "capturado o Estado", já foi forçado a sair, "porque é que as práticas autoritárias de censura ainda continuam?".

O líder da UNITA lamentou que Angola vai realizar as eleições autárquicas sem alterar primeiro a composição e o funcionamento da Comissão Nacional Eleitoral, que sempre foi controlada pelos "marimbondos" que escolhem as empresas que fornecem a logística eleitoral.