Os residentes da também conhecida cidade musseque Sequele reclamam igualmente uma presença activa da administração local, cuja ausência, entendem estar na base da não resolução dos vários problemas que ainda enfrentam os dez mil habitantes que comportam esta primeira fase de ocupação. Prognosticaram uma vida melhor na cidade, comparada à das zonas que em que viviam anteriormente. Mas alguns problemas, como regras de convivência, saneamento básico e criminalidade continuam a persegui-los, segundo relatos dos próprios moradores.
Edna, residente há um ano, destaca as constantes falhas de água como sendo um dos maiores problemas da população. "Muitas vezes a água sai turva, noutras vezes nem pinga", observa entre críticas, para depois apontar outras situações que a apoquentam: "As louças sanitárias e as fossas de muitos apartamentos entopem facilmente. As pessoas são obrigadas a chamar carros para puxar os detritos, mas não percebemos a razão. O pouco tempo que estamos aqui não justifica os entupimentos", censura a moradora do bloco 12.
A outra questão é a limpeza da cidade que reclama por mais contentores. "Num edifício só há um balde de lixo para muitos moradores. Muitas vezes as pessoas põem o lixo no chão. O jardim também está muito mal conservado. Alguns moradores mandam capinar o seu lado, tudo porque a administração aqui não funciona", opinou a jovem, que também co-responsabiliza os seus vizinhos. "Temos alguns coordenadores dos edifícios que procuram ajudar nestas questões, mas como cada um veio de uma zona diferente, com hábitos e costumes diferentes, fica complicada a convivência. Alguns moradores fazem a limpeza dos edifícios, mas outros não", reprovou a interlocutora.
A urbanização conta, nesta primeira fase, com dez mil e dois apartamentos e está dividida em 12 blocos com 426 edifícios. Os moradores dos blocos 11 e 12 reclamam da inoperância dos elevadores que dizem nunca ter visto a funcionar desde que a cidade passou a ser habitada. Jemima, outra residente, revela que em Dezembro do ano passado, uma equipa de técnicos angolanos e chineses prometeu resolver o problema, mas sem sucesso.
"No ano passado, em Dezembro, prometeram que iriam pôr os elevadores a funcionar, mas até agora nada. Uns alegam que a energia não tem potência suficiente para aguentar os elevadores", aventou a também residente do bloco 12. Um outro problema apontado por Jemima e constatado pela nossa reportagem é o mau parqueamento das viaturas por parte dos moradores, uma situação que contribui para a desfiguração da cidade. "Até hoje, ninguém sabe como parquearas viaturas, uns põem os carros aqui e outros ali, tudo porque não há uma administração para organizar. As contantes falhas de água e os elevadores parados são as nossas maiores dores de cabeça", acentua a moradora do musseque Sequele.
Capim toma conta da cidade
A centralidade de Cacuaco está a ser engolida pelo capim, constatou a nossa reportagem, após atravessar vários dos seus pontos. Alguns moradores, de forma singular ou colectiva, procuram conter o crescimento do capinzal, contratando jardineiros para a poda da erva, mas… "não há a participação de todos", reprova Barbara, uma outra moradora que, com os seus vizinhos tem optado por contratar pessoas para cuidar da relva e da limpeza do seu prédio.
"Não devemos esperar só pelo governo, nós mesmos devemos fazer a nossa parte, enquanto a administração não aparece. Aqui nós estamos organizados, o meu prédio é diferente dos outros, contribuímos com 500 kwanzas mês por cada habitante e fazemos a diferença", gaba-se a moradora do edifício 28.
Já Francisco, que também se queixa do aparente abandono a que a cidade está votada, afirma que a sua vida na centralidade de Cacuaco está melhor do que no lugar que emque vivia. Há sete meses a viver na cidade, o cidadão quer que a zona tenha mais transportes públicos, hospital e lojas. "Vivo cá desde Setembro do ano passado. Desde que aqui cheguei, tenho notado que há tranquilidade. Onde eu morava, havia muita turbulência, mas aqui está mais calmo. O que quero mesmo são mais serviços sociais", reclamou.
Cidade sem hospital
Com sensivelmente três anos de existência, a centralidade de Cacuaco ainda não possui um hospital, uma situação que deixa preocupados os moradores que se vem a braços com os problemas de saúde. Vários são os relatos de mortes que ocorrem por falta de assistência médica na localidade. "A questão da saúde é muito grave. Muitas grávidas acabam dando à luz no caminho, à procura de hospitais fora da cidade. Há ainda casos de pessoas que morrem por falta de assistência médica na cidade. Aqui não temos a quem recorrer quando precisamos de médico", reclamaram os interlocutores.
"Estamos numa cidade e deveríamos ter de tudo, mas não. Continuamos a enfrentar os problemas que nos levaram a fugir da periferia. Desde a falta de administração ao problema da falta de consciência dos cidadãos", observou um morador.
A criminalidade é outra situação que também começa já a preocupar. Há relatos de ocorrências depequenos delitos, praticados na sua maioria por crianças e adolescentes. "Sexta-feira é o dia de maior turbulência. Muitos miúdos depois da escola sentam-se no mercado, bebem e depois envolvem-se em confusões, atiram garrafas e criam pânico na cidade. Felizmente, a Polícia tem sabido travar a situação", relataram, apelando para uma maior vigilância e prontidão dos efectivos policiais.
"Escolas desguarnecidas e sem limpeza"
Na centralidade de Cacuaco, os moradores reclamam igualmente das condições de higiene de algumas escolas, a começar pela escola primária, cujas casas de banho, se encontram em estado "deplorável" por falta de limpeza. "Havia algumas pessoas a trabalhar na limpeza da escola, mas não foram pagas durante uns cinco meses e decidiram abandonaram. Hoje, as casas de banho estão uma lástima. Muitas pessoas até já proibiram os filhos de fazer uso das mesmas, porque é muita sujidade junta", relataram alguns encarregados de educação, agastados com a situação.
Para fazer face à situação, revelaram que lhes está a ser exigida uma comparticipação de 500 kwanzas/ mês por cada estudante, para resolver o problema da limpeza e da guarnição que também está em falta na escola, proposta rejeitada por muitos encarregados, de acordo com as nossas fontes. "Não aceitamos porque não souberam justificar como irão gastar estes valores que achamos exorbitantes num universo de cerca de quatro mil alunos. Será muito dinheiro só para pagar às senhoras de limpeza e aos guardas", explicaram à nossa reportagem, os pais de alguns estudantes, acrescentado ainda que, os responsáveis da escola "tencionam contratar uma empresa de limpeza" com os valores da comparticipação dos encarregados.
"Há muitas senhoras aqui nos prédios que podem fazer o trabalho de limpeza e receber um ordenado normal. Não aceitamos pagar os valores", desabafaram. No dia da reportagem, o Novo Jornal observou quantidades de papéis, sacos e bidons espalhados pelo quintal da escola, o que fazia perceber, para quem circulasse na zona, uma situação complicada na (falta de) limpeza do recinto escolar. Na escola primária, apenas notámos a presença de um único guarda, à entrada principal, para segurança de milhares de alunos.
"Os responsáveis da escola dizem que o governo não disponibilizou este ano uma verba para pagar empregadas de limpeza e guardas. Agora, querem que contribuamos com 500 Kwanzas cada um. Onde é que está o governo e a Igreja Católica que é a gestora da escola?", questionam-se os entrevistados.