Esta situação foi confirmada pelo Novo Jornal junto da Secil Marítima, sendo a baixa procura desta forma de viajar entre Luanda e Cabinda justificada, apesar de não existir alternativa terrestre directa, pelo incómodo sentido pelos passageiros, a duração excessiva e a escassa bagagem que é permitido transportar, além da reduzida diferença para a alternativa aérea, que está nos 27 mil kz.

A empresa ponderava aumentar as frequências de embarcações de Luanda para Cabinda e regresso ainda este mês, mas, devido à baixa procura dos serviços, isso revelou-se inviável.

Segundo apurou o Novo Jornal em conversa com alguns funcionários da embarcação e passageiros, a fraca adesão tem a ver com o facto dos passageiros apenas terem direito a oito quilos de bagagem de mão e 40 quilos no porão, mais 20 de excesso de carga, que é considerado escasso.

"Há dias que iniciamos a viagem com menos de 50 passageiros para Cabinda. Um número muito reduzido em comparação com os dos primeiros dias, quando o bilhete custava 30 mil e seguiam a bordo mais de 200 passageiros", disse ao Novo Jornal um funcionário do catamarã que zarpou para o "enclave" na passada sexta-feira.

Segundo este funcionário, que solicitou anonimato, há problemas com as embarcações porque estas foram sujeitas a uma adaptação para este trajecto de mais de 10 horas quando, inicialmente, foram concebidos para travessias curtas entre margens ou ilhas próximas.

Outro problema existente é o facto de as embarcações não estarem equipadas com sistemas de transmissão próprios, dependendo de telemóveis apesar de a rede, ao longo do trajecto, ser fraca e nalguns locais inexistente.

Problemas no porto de Cabinda

Estes catamarãs têm igualmente muitas dificuldades em atracar no Terminal Marítimo de Cabinda, devido às obras que decorrem, havendo mesmo registo de situações em que a embarcação encalha antes de atracar.

"Sim, é por isto tudo que os passageiros têm vindo a diminuir porque é natural que se pense duas vezes antes de escolher entre o barco e o avião para a deslocação entre Luanda e Cabinda", disse ao Novo Jornal um passageiro que já fez este percurso algumas vezes, alegando que só o continua a fazer devido à carga que pode levar no porão compensar ligeiramente no que respeita a valores.

Outro passageiro, Adão Luciano, que na passada sexta-feira seguiu para Cabinda a partir de Luanda, contou ao Novo Jornal que levar 60 quilos de bagagem, 40 mais 20 pagos à parte, não é suficiente para uma pessoa que pretende levar mercadoria ou produtos para a família para Cabinda ou de lá para Luanda.

Isto, porque, lembra, a criação de uma rota marítima deveria ter como principal vantagem precisamente a carga permitida por passageiro, porque os transtornos são tantos e a diferença de preço dos bilhetes face ao avião, não permite outra vantagem competitiva para este meio.

"Cabinda não tem ligação terrestre com nenhuma outra província do País, se houve essa oportunidade marítima que existisse então também a oportunidade dos passageiros puderem viajar com 200 ou mais quilos no porão", disse.

As pessoas, prossegue Adão Luciano, percebem de imediato que não têm muitas vantagens em seguir viagem de catamarã porque em termos de preços não há muito diferença com o do avião que é feito em 45 minutos e quase a mesma carga.

Branca Azevedo, que vive em Cabinda e veio comprar produtos em Luanda, lamentou o facto de este percurso não contemplar uma paragem no Soyo. Ou seja, actualmente há apenas percurso de Luanda-Cabinda-Luanda e Soyo-Cabinda-Soyo, sendo notada a falta de uma rota Luanda-Soyo-Luanda ou uma a ligar Luanda a Cabinda, com paragem no Soyo.

Das conversas mantidas com funcionários e passageiros foi ainda possível perceber que, exceptuando a questão das comunicações, não há nota de outros problemas em questões de segurança.

Inicialmente estas embarcações tinham como lotação máxima 350 passageiros mas foi, entretanto, reduzida para 276.

Mas, nas últimas sextas-feiras, dia de zarpar de Luanda, o catamarã raramente excede os 50 passageiros, o que é, para os funcionários, um sinal de alerta sobre a viabilidade económica desta rota marítima.

As dificuldades

Ao Novo Jornal, fonte da Secil Marítima reconhece as dificuldades e referiu que o número de passageiros que registam agora não satisfaz a empresa.

A mesma fonte adianta que o "ponto de equilíbrio" se situa nos 155 passageiros por viagem, porque os custos com combustível são muito elevados.

Segundo esta fonte, os novos catamarãs apenas têm capacidade para transportar passageiros e não cargas, uma fez que as embarcações foram adaptadas para este trajecto.

"As embarcações são para passageiros e não para bagagem, por isso permitimos um número limitado de quilos. Apenas autorizamos os passageiros a viajar com até 60 quilos devido à capacidade em termos de tonelagem da embarcação", explicou.

"Infelizmente a embarcação que temos para cargas ainda não funciona devido às condições nos terminais portuários. Mas ela já está pronta! É o "Ferry Cabinda" que leva mais de 100 toneladas de carga", adiantou.

A fonte disse que a Secil Marítima recebeu essa embarcação de carga há dois anos, mas permanece parada devido à falta de condições nos terminais marítimos.

E salientou que o Terminal Marítimo de Cabinda, apesar de já ter sido inaugurado, ainda não está totalmente pronto, o que dificulta a atracagem de embarcações.

Face à fraca adesão dos passageiros na viagem marítima Luanda/Cabinda, apurou o Novo Jornal, a Secil Marítima faz agora uma avaliação dos custos operacionais em conjunto com o Ministério dos Transportes e espera-se uma decisão em breve.