A seca na província do Cunene atinge 178 mil famílias, num total de 857 mil pessoas e estão mapeadas cerca de 436 localidades em estado crítico.

Pela mesma situação, estão afectadas, neste momento, 276 escolas, onde estão matriculados 54.490 alunos.

Os municípios do Curoca, Cahama, Ombadja, principalmente nas localidades de Omahenge ya Shikungo, Omahenge ya Shivulo e Mucupe, e as comunas do Evale, Anhanca, Nehone, Oshimulo, Cuanhama e do Namacunde são os mais afectadas pelo fenómeno da seca.

Barragens contra a seca

Em Abril, o Presidente da República (PR) aprovou, por despacho, um pacote financeiro de 200 milhões de dólares para resolver problemas estruturantes que combatam os "efeitos destrutivos" da seca que assola a província do Cunene, no sul do País, incluindo a construção de duas barragens.

No mesmo despacho, referido num comunicado da Casa Civil do PR citado pela Angop, é ordenado que sejam desencadeados, "de imediato, os procedimentos de contratação, por concurso público", dos serviços para a edificação de "um sistema de transferência de água do rio Cunene que partirá da localidade de Cafu até Shana, nas áreas de Cuamato e Namacunde, destinando para a obra o valor em kwanzas no equivalente a 80 milhões de dólares".

Um segundo projecto diz respeito à construção de uma barragem na localidade de Calucuve e do seu canal adutor associado, no valor de 60 milhões de dólares, no seu correspondente em moeda nacional.

Foram ainda destinados 60 milhões de dólares para a construção de uma outra barragem e o respectivo canal adutor, na localidade de Ndue.

"Além do concurso público para se encontrar empresas que possam edificar as obras anunciadas, o Presidente João Lourenço determinou também no seu despacho que sejam contratados os necessários serviços de fiscalização".

A informação sobre a construção de barragens nas províncias do sul de Angola que estão entre as mais ameaçadas e afectadas pela seca que há vários anos se instalou em grande parte da África Austral devido às alterações climáticas já tinha sido avançada pelo ministro da Energia e Água, João Baptista Borges.

O objectivo prioritário destas represas é o armazenamento de água para os animais e para as pessoas mas podem ser ainda fontes abastecedoras de água para irrigação de campos agrícolas.

"São soluções de engenharia que passam pela transferência de caudais de zonas com alguma abundância para zonas mais secas", explicou o ministro no dia 25 de Março.

O Cunene, recorde-se, está oficialmente em situação de calamidade devido à seca e as autoridades locais e a sociedade civil têm insistido junto do Governo de Luanda para a urgência de medidas atenuadoras da situação de catástrofe natural.

Uma situação que estava prevista

As províncias do sul de Angola vivem há anos em permanente escassez de chuva, com mais de 900 mil pessoas, incluindo cerca de 400 mil crianças, em risco e a precisar de assistência permanente, como as agências das Nações Unidas têm sublinhado em repetidos relatórios e como o NJOnline tem noticiado.

Segundo um relatório recente da UNOCHA, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação das Emergências Humanitárias, entre Outubro de 2018 e meados de Janeiro deste ano, as chuvas ficaram "muito abaixo do que é normal" em vastas áreas de Angola, Zâmbia, Zimbabué, norte da Namíbia, sul de Moçambique - a actual tragédia nas províncias de Sofala e Manica em nada servem para negar esta realidade - e ainda no Botsuana, Madagáscar e na África do Sul.

Estes países, onde se juntam ainda o Lesoto e a Tanzânia, receberam, em média, nas regiões afectadas, menos de 75 por cento do que é normal em matéria de pluviosidade, apesar de algumas melhorias na parte final de Dezembro e princípio deste ano, sendo que algumas áreas foram assoladas por intensas chuvas, sendo que também esta situação é considerada pelos especialistas como anormal, causando mesmo inundações em países como o Malawi ou no norte de Moçambique.

Ainda de acordo com a informação distribuída pelo UNOCHA, Angola, que está este ano a registar uma pluviosidade abaixo do normal em todo o território, provocando atrasos nas culturas que podem criar problemas em várias províncias no que diz respeito à segurança alimentar das populações, no sul registou uma acrescida preocupação devido ao acumular da falta de chuva com temperaturas bastante acima do normal, especialmente entre Outubro e Dezembro de 2018, o que provocou a destruição de algumas culturas essenciais, como o milho, entre outras.

O gado, essencial para as populações das províncias mais a sul em Angola, está igualmente a ser severamente fustigado pela falta de chuva e, por essa razão, pela escassez de alimento natural.

A este cenário, junta-se a possibilidade de as chuvas permanecerem escassas, segundo as previsões meteorológicas, e ainda a permanência de temperaturas anormalmente elevadas, pelo menos até ao mês de Março, o que poderá aumentar de forma significativa o stresse das culturas e, em algumas regiões, colocando mesmo em causa as colheitas.