Na semana passada, a Cooperativa dos Jovens Empreendedores da Barra do Bengo relatou a morte a tiro de dois colegas em alto mar, um assunto que já esta a ser investigado pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), soube o Novo Jornal.

António Gaspar, nome fictício, pescador na Ilha de Luanda há vários anos, e ex- militar das FAA, contou que os assaltantes são indivíduos com experiência no mar e com tática militar.

"Eles usam códigos, conhecem a distância da costa. Não se perdem no mar e conhecem todos os truques dos pescadores", contou.

Segundo este pescador, embarcações ou pessoas sem o mínimo de conhecimento do mar não navegam em alto mar.

António Gaspar, que já sofreu assaltos dos meliantes no mar, destaca que os marginais surgem como se fossem pescadores, chegam em duas lanchas, todos mascarados e armados com KM e com granadas, e surpreendem os barcos por trás.

"No mar há segredos, qualquer marinheiro não vai para alto mar à toa. Esses indivíduos quando vão embora já não aparecem. Nenhum de nós os vê", contou.

Outros pescadores, que também optaram por não serem identificados, questionam o facto de até agora nunca ter sido encontrado qualquer assaltante ligado ao mar.

"Nunca vimos até ao momento a Polícia Nacional ou o Serviço de Investigação Criminal (SIC) apresentar um grupo de assaltantes que se dedicavam a roubar motores de barcos em alto mar. Porque será?", questionam-se também.

Segundo estes pescadores, em muitos casos, os meliantes chegam até a desmontar os motores dos barcos e levam consigo todo o peixe capturado.

"Nos deixam à deriva e às vezes atiram-nos ao mar. Em seguida, eles somem do mar? Isso é muito estanho. Porque é que nunca ficaram perdidos? Nós, que temos experiência, por vezes ficamos perdidos, por horas, imaginem eles?", narraram.

Os pescadores esperam que haja maior envolvimento da Polícia Fiscal para se repor a tranquilidade no mar.

Na semana passada, o responsável da Cooperativa dos Jovens Empreendedores da Barra do Bengo disse ao Novo Jornal que, por falta de protecção, muitos pescadores já não se querem fazer ao mar e relevou que outros estão a adquirir armas de guerras para se defenderem dos marginais em alto mar.

SIC afasta envolvimento das forças de defesa e segurança

Sobre as desconfianças dos pescadores, o director de comunicação institucional e imprensa do Serviço de Investigação Criminal (SIC), superintendente de Investigação criminal, Manuel Halaiwa, descartou a possibilidade de alguns assaltantes poderem ter ligações à Marinha de Guerra ou à Polícia Fiscal

Segundo o porta-voz do SIC-geral, as suspeitas dos pescadores não colhem: "Os efectivos têm marcações específicas para trabalhar e em nenhum momento se vão fazer passar por pescadores. Essa questão é de afastar", explicou.

Segundo Manuel Halaiwa, o SIC já investiga o assalto, de há duas semanas, em alto mar, que terá supostamente levado ao desaparecimento de dois pescadores, que, segundo relatos, foram alvejados durante o assalto.