Para Laura Macedo e Maria Helena Victória Pereira, que marcaram uma conferência de imprensa para esclarecer o assunto, "as crianças tinham sido recolhidas momentaneamente das casas das suas famílias e colocadas num local para que pudessem fazer o vídeo".

Após a realização do vídeo, "as crianças voltaram para junto dos seus familiares onde habitam, não se encontrando nenhum órfão no processo", afirmaram, esclarecendo que as quatro crianças resgatadas estavam com as respectivas famílias nos bairros Cassaca 2 e Zango 3.

"Podemos afirmar que quatro das crianças estão a ser observadas nos hospitais já referidos sob tutela das autoridades sanitárias e acompanhadas por familiares directos", declararam as activistas.

Laura Macedo contou que foi contactada pela SIC que lhe forneceu o número Hélder Silva de forma a encontrar a localização das crianças para obterem a ajuda necessária.

"Nesse seguimento eu, Laura Macedo entrei em contacto com várias entidades governamentais de forma a obter o apoio necessário para o resgate urgente das crianças".

Questionada pela Lusa, Laura Macedo, considerou que se tratou "de uma tentativa de fraude realizada em Portugal", já que não foi feito qualquer pedido de ajuda ou apelo junto das autoridades angolanas.

"As crianças são angolanas, nós somos angolanos, mas o apelo feito pelo sr. Helder é para os portugueses, a fraude vem de Portugal, alegadamente de uma senhora que se chama Fátima (da associação Pedacinho do Céu) que, segundo Helder Silva, coordenou toda esta operação", disse Laura Macedo.

"A nossa percepção é que houve uma manipulação" no sentido de "montar esta encenação", acrescentou Maria Helena Pereira.

Numa nota de imprensa distribuída durante a conferência de imprensa, Laura Macedo e Maria Helena Pereira criticaram a "contra-informação veiculada por vários organismos de comunicação social e redes sociais".

Segundo as activistas, esta tensão levou à "perda do rasto" de Hélder Silva, o angolano envolvido, inviabilizando a localização e possível resgate para acompanhamento médico de outras crianças que possam existir.

Também uma fonte do Ministério da Família e Promoção da Mulher (MASFAMU), considera que se trata de uma tentativa de fraude, depois uma delegação multi-sectorial ter estado no Bairro da Estalagem, em Viana, onde não encontrou qualquer vestígio das crianças.

A fonte contou ao Novo Jornal que, depois de ter sido feito um contacto com Hélder Silva, o promotor angolano da denúncia que chegou à SIC, foi marcado um encontro ao qual ele não compareceu.

Mesmo assim, a equipa dirigiu-se à zona indicada por Hélder Silva durante o telefonema do dia anterior, onde não encontrou qualquer centro.

De lembrar que o canal de televisão português SIC divulgou, na terça-feira, a reportagem "Os meninos de Kassanje", com base numa denúncia feita pela associação Pedacinho do Céu, localizada em Olhão, Portugal.

A reportagem dava conta da existência de cerca de 200 crianças que estariam fechadas num barracão nos arredores de Luanda, num estado de saúde que inspira cuidados, algumas com desnutrição grave e alto grau de vulnerabilidade social, completamente desprotegidas.

De acordo com a SIC, a associação que fez a denúncia recusou dar a localização do barracão e não contactou qualquer organização ou entidade angolana.

Na noite de quarta-feira, o Governo angolano emitiu um comunicado em que informava que pediu ajuda à estação portuguesa de televisão SIC para tentar localizar as crianças.

Em Angola, a desnutrição está relacionada com 45 por cento das mortes infantis. Dados do Ministério da Saúde mostram que, nos últimos três anos, a fome matou mais de 7.880 crianças menores de cinco anos.