Entre hoje e amanhã, 12, os melhores cérebros que a humanidade tem nas áreas da pesquisa e produção de medicamentos, técnicas de diagnóstico e estratégias de contenção de epidemias vão estar concentrados em Genebra, cidade que alberga a sede mundial da OMS, com o objectivo de elaborar um mapa de acção contra o coronavírus que foi descoberto na cidade chinesa de Wuhan, em Dezembro, e que já fez mais de mil mortos em cerca de 43 mil casos de infecção confirmados em todo o mundo.

Mas este encontro coincide igualmente com os primeiros indícios de que a epidemia na China começa a ceder aos esforços em curso para a combater, desde logo as rígidas quarentenas a que estão sujeitas as cidades da província de Hubei, onde tudo começou, como é o caso mais destacado de Wuhan, onde habitam 11 milhões de pessoas e de onde, há quase um mês, não entra nem sai ninguém sem autorização especial.

No entanto, uma das medidas draconianas tomadas pelas autoridades chinesas foi restringir ao máximo as movimentações de pessoas internamente e para o exterior, coincidindo com as férias do Ano Novo chinês, tendo essas limitações sido levantadas na segunda-feira, o que quer dizer que milhões de pessoas vão voltar a circular no país e para o estrangeiro, nomeadamente para os países onde estão a trabalhar, sendo este um momento considerado crítico, mas inevitável, pelos especialistas.

Mas, por exemplo, as companhias aéreas mais importates em todo o mundo continuam com severas restrições nas suas rotas para a China, as quarentenas obrigatórias de cidadãos oriundos da China ainda são a norma em quase todo o mundo, algumas fronteiras com a China, como a com a Rússia, permanecem encerradas...

E a OMS destacou o facto de serem agora em maior número os casos de contágio entre pessoas sem quaisquer ligações à China, pessoas que não se deslocaram ao país, que não contactaram com ningém que o tenha feito, o que, segundo o director-geral desta agência da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, coloca esta epidemia noutro nível de gravidade.

Na segunda-feira as autoridades chinesas acrescentaram 108 vítimas mortais à lista, que já contém 1.016 mortos, e mais 2.478 casos. Estes números traduzem um ligeiro aumento no número de mortos em relação a Domingo (94) mas uma acentuada diminuição no número de casos novos: 2.478 ontem, contra mais de 3 mil do dia anterior.

A Comissão Nacional de Saúde chinesa informou ainda que em Hubei, província onde o novo coronavírus foi detectado pela primeira vez, no início de Dezembro, num mercado alimentar da cidade de Wuhan, dando início a esta epidemia com focos globais, como a OMS lhe chama para evitar a denominação de pandemia, continuam a surgir a maior parte dos novos casos, com mais 103 mortos nas últimas 24 horas e mais 2.097 infecções confirmadas laboratorialmente.

Em todo o mundo, nos cerca de 30 países já inseridos neste mapa trágico, estão confirmados 309 casos e foram registadas pelo menos duas mortes, sendo que o continente africano é ainda o único onde não estão confirmados casos de infecção, embora em vários países, como Angola, já foram despistados casos suspeitos.

Para evitar que esta epidemia chegue ao continente africano, a OMS declarou 13 países como de intervenção prioritária, sendo Angola um deles, para onde foram enviados já kits que permitem a detecção precoce de quaisquer casos, sendo que essa detecção célere é a melhor forma de impedir o alastramento do vírus, especialmente porque são países com fortes comunidades chinesas, com débeis sistemas nacionais de saúde e com áreas urbanas com milhões de pessoas a viverem em fracas condições sanitárias.

Enquanto isso, em Genebra, os especialistas convocados pela OMS começam hoje a procurar uma metodologia apropriada para a procura de um medicamento eficaz, que pode ser, como o é normalmente, uma vacina, mesmo que este tipo de medicamento precise de cerca de um ano para ser aprovado após os testes standard exigidos.

E, como têm alertado alguns especialistas, em cima da mesa vai estar o facto deste coronavírus se distinguir dos demais já conhecidos, como o que provocou o SARS em 2002/2003, cujo número de mortos e vítimas totais já foi largamente ultrapassado por esta epidemia, por possuir a capacidade de transmissão na fase assintomática do paciente - sem sintomas visíveis - e por permitir que muitas das suas vítimas se mantenham sem sintomas durante toda a fase da infecção, mantendo, todavia, a capacidade de contágio activa.

Neste encontro de Genebra, como explicou a epidemiologista da OMS, Maria van Kerkhove, entre os participantes vão estar especialistas em detectar a origem do vírus deste o seu portador natural, normalmente um animal, porque estudá-lo no seu ambiente é fundamental para o debelar entre os humanos.

Enquanto isso, como anunciou o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, outros técnicos já estão a caminho da China para ajuda as autoridades sanitárias locais no combate a esta epidemia, podendo ser ainda fortalecida por elementos do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês).

O vírus em Angola

A par das medidas em curso aplicadas pelo Ministério da Saúde, como o controlo à chegada nas várias fronteiras do país, é a comunidade chinesa em Angola que está a aplicar as medidas mais dramáticas, como explicou o seu embaixador, Gong Tao, em Luanda.

Evitar as viagens de e para a China e a redução da mobilidade interna são algumas das medidas auto-impostas pela comunidade chinesa em Angola de forma a contribuir para o combate global em curso contra o coronavírus.

Segundo o embaixador chinês em Angola, Gong Tao, em conferência de imprensa na passada semana, estas medidas que estão a ser seguidas pelos membros da comunidade chinesa em Angola, que ultrapassa os 250 mil, são voluntárias, porque, apesar de ter lançado um alerta internacional de saúde pública, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não proibiu a movimentação de pessoas e bens.

Isso está a ser realidade também junto daqueles que se deslocaram por estes dias à China para comemorar junto das suas famílias o Ano Novo Lunar, a maior festa chinesa, e estão a retardar o regresso no âmbito das medidas preventivas consideradas adequadas.

Os que regressaram há poucos dias, para evitar quaisquer riscos, estão a proceder ao auto-isolamento.

O diplomata chinês, em conferência de imprensa realizada na sexta-feira em Luanda, admitiu que o vírus de Wuhan vai ter um impacto negativo nas relações económicas entre os dois países, mas notou que o mais importante é estancar esta pandemia porque os negócios podem esperar, "têm tempo".

Tao disse que a embaixada tem estado em permanente contacto com as autoridades angolanas, partilhando informações e cooperando no que diz respeito à assistência sanitária.

A embaixada está "muito atenta" no que diz respeito à comunidade chinesa, monitorizando a situação, sublinhando que para a representação diplomática de Pequim em Luanda, a saúde do povo angolano é tão importante como a do povo chinês.

Mas o Governo angolano procedeu nas últimas horas a algumas medidas mais intensas, como a quarentena obrigatória para todos aqueles que cheguem ao país oriundos de regiões chinesas mais expostas à doença, como a província de Hubei e a sua capital, Wuhan.

Para isso, foi criado uma unidade hospitalar de urgência na Barra do Kwanza, onde estão, actualmente, pelo menos 40 pessoas, como foi anunciado pelo Ministério das Relações Exteriores.

O vírus, o que é e o que fazer, sintomas

Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, como início na China.

Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.

Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.

O período de incubação máximo é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.

A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas