Depois do encontro em Genebra, na Suíça, onde está a sede mundial da OMS, que reuniu mais de 400 especialistas, desde virologistas, farmacêuticos, técnicos de controlo de epidemias, entre outros, com o objectivo de definir uma estratégia planetária para fazer face ao actualmente "inimigo público nº 1 global", o chefe desta agência das Nações Unidas advertiu que não é razoável esperar uma vacina ou outro tipo de medicamento eficaz em menos de 18 meses.

Com este dado, Tedros Ghebreyesus pretendeu enfatizar o facto de a melhor forma de conter a pandemia é ainda a prevenção e a detecção precoce de focos de contaminação, especialmente nos países com débeis sistemas de saúde, sem capacidade para proceder à contenção de um surto do Covid-19, como é o caso de muitos dos países africanos, incluindo Angola.

Angola, tal como outros 12 países africanos, incluindo a vizinha RDC, foram colocados numa lista de intervenção prioritária, com o envio de kits de emergência para detectar o vírus, porque, entre outras razões, a OMS destaca as fortes ligações à China, com comunidades chinesas importantes nos seus territórios, e, sublinhando este dado, porque contam com grandes massas humanas a viver em condições precárias em infra-estruturas sanitárias e fraca capacidade de resposta hospitalar.

O responsável pela OMS em todo o mundo lembrou em Genebra que o novo coronavírus exigiu das autoridades chinesas uma resposta de dimensão nunca vista em todo o mundo, com milhões de pessoas fechadas em cidades de grande dimensão - Wuhan tem 11 milhões de habitantes -, com a interdição de dezenas de milhões se deslocarem interna e para o exterior do país, reconhecendo a gravidade desta epidemia, não só para o país mas também para todo o mundo.

O Covid-19 - esta designação foi escolhida para evitar o estigma que outras encerram - já chegou a pelo menos 31 países, com cerca de 250 casos confirmados, pelo menos dois mortos fora da China continental, e com dezenas de casos já provados de contágio sem quaisquer ligações à China, com passagem do Covid-19 entre pessoas que nem estiveram na China nem contactaram com pessoas que tenham estado naquele país onde a epidemia tee origem.

O director-geral da OMS fez ainda uma declaração que se percebe que as palavras foram escolhidas para enfatizar a gravidade da situação: "As viroses podem ser mais poderosas nas suas consequências que qualquer acção terrorista em qualquer lado do mundo".

Sem uma vacina possível para breve, advertiu Tedros Adhanom Ghebreyesus, o mundo tem de lidar com esta "muito séria ameaça" com as armas que tem disponíveis, e ssas são, essencialmente, a resposta célere a eventuais focos, porque, enfatizou, o número de casos diagnosticados positivos em pessoas que nunca estiveram na China "pode ser apenas a ponta do icebergue".

Isto, porque este vírus, que, como todos os coronavírus, tem especial incidência no sistema respiratório, possui a capacidade de manter alguns portadores sem sintomas da doença, possui a capacidade de contágio na fase assintomática e demonstra ter um poder de progressão nas comunidades humanas muito superior aos de pandemias anteriores, como a SARS, entre 2002 e 2003, ou o MERS - com origem na Arábia Saudita - em 2012, mesmo que a sua taxa de letalidade seja bastante inferior, por enquanto.

O SARS (Síndrome Respiratório Agudo Grave) tinha uma taxa de mortalidade de 9,5 por cento, enquanto o Covid-19 não é superior aos 2,3 %.

Porém, os números provenientes da China admitem algum optimismo, visto que, sendo verdade que as mortes têm aumentado diariamente - mais de 100 nas últimas 24 horas -, o número de contágios tem diminuído diariamente, com 2.015 na terça-feira, o mais baixo desde o dia 30 de Janeiro.

O vírus em Angola

A par das medidas em curso aplicadas pelo Ministério da Saúde, como o controlo à chegada nas várias fronteiras do país, é a comunidade chinesa em Angola que está a aplicar as medidas mais dramáticas, como explicou o seu embaixador, Gong Tao, em Luanda.

Evitar as viagens de e para a China e a redução da mobilidade interna são algumas das medidas auto-impostas pela comunidade chinesa em Angola de forma a contribuir para o combate global em curso contra o coronavírus.

Segundo o embaixador chinês em Angola, Gong Tao, em conferência de imprensa na passada semana, estas medidas que estão a ser seguidas pelos membros da comunidade chinesa em Angola, que ultrapassa os 250 mil, são voluntárias, porque, apesar de ter lançado um alerta internacional de saúde pública, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não proibiu a movimentação de pessoas e bens.

Isso está a ser realidade também junto daqueles que se deslocaram por estes dias à China para comemorar junto das suas famílias o Ano Novo Lunar, a maior festa chinesa, e estão a retardar o regresso no âmbito das medidas preventivas consideradas adequadas.

Os que regressaram há poucos dias, para evitar quaisquer riscos, estão a proceder ao auto-isolamento.

O diplomata chinês, em conferência de imprensa realizada na sexta-feira em Luanda, admitiu que o vírus de Wuhan vai ter um impacto negativo nas relações económicas entre os dois países, mas notou que o mais importante é estancar esta pandemia porque os negócios podem esperar, "têm tempo".

Tao disse que a embaixada tem estado em permanente contacto com as autoridades angolanas, partilhando informações e cooperando no que diz respeito à assistência sanitária.

A embaixada está "muito atenta" no que diz respeito à comunidade chinesa, monitorizando a situação, sublinhando que para a representação diplomática de Pequim em Luanda, a saúde do povo angolano é tão importante como a do povo chinês.

Mas o Governo angolano procedeu nas últimas horas a algumas medidas mais intensas, como a quarentena obrigatória para todos aqueles que cheguem ao país oriundos de regiões chinesas mais expostas à doença, como a província de Hubei e a sua capital, Wuhan.

Para isso, foi criado uma unidade hospitalar de urgência na Barra do Kwanza, onde estão, actualmente, pelo menos 40 pessoas, como foi anunciado pelo Ministério das Relações Exteriores.

O vírus, o que é e o que fazer, sintomas

Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, com início na China.

Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.

Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.

O período de incubação médio é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.

A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas de estarem doentes.