Que importância atribui ao estudo Empreender, Diversificar e Competir, e que linhas de força o mesmo comporta?

O estudo Empreender, Diversificar e Competir desenvolvido e apresentado pelo IFE tem por base alguns objectivos principais: lançar as bases para uma discussão mais ampla sobre o estado actual do tecido empresarial angolano, identificar as potencialidades de crescimento futuro e discutir caminhos para cumprir as metas estabelecidas para o país e para os respectivos sectores de actividade. O Estudo não constitui por si só um programa de actividades, nem um instrumento de actuação.

Então para que serve?

Sendo o Observatório Económico uma estrutura dedicada à análise e monitorização do contexto económico e empresarial de Angola, este estudo, ambicioso, pretende de uma forma sistemática recolher informação sobre os principais sectores da economia angolana, identificar o estágio de evolução dos principais pilares de competitividade, dar indicações de quais as iniciativas públicas e privadas fundamentais a implementar e identificar como Angola pode estar daqui a cinco anos em termos de competitividade. Por último, perspectiva-se onde poderá estar a economia angolana daqui a cinco anos.

E onde estão as principais conclusões e linhas de força?

As principais conclusões e linhas de força do estudo relacionam-se com as recomendações que o mesmo faz no âmbito das iniciativas privadas e públicas que podem mudar a posição competitiva de Angola.

Que recomendações são essas?

Aumentar a produção interna para satisfazer o mercado doméstico, aproveitar a existência de recursos naturais, e um mercado de consumo doméstico em rápido crescimento, desenvolver actividades nos sectores e redes de agrupamentos de empresas clusters prioritários, desenvolver de forma sólida as empresas nas suas áreas de gestão interna e capacidade produtiva, utilizar o conhecimento internacional criando as condições necessárias para a sua transferência para o seio das empresas, através da importação do conhecimento e introdução do mesmo junto da força de trabalho. E aproveitar a crise internacional para ganhar espaço e credibilidade nos mercados internacionais altamente competitivos.

E o que é recomendado aos actores públicos?

Os actores públicos devem seleccionar sectores e redes de empresas prioritárias, desenvolver o território nacional de forma equilibrada, reabilitar e qualificar as infra-estruturas de fornecimento de energia, água e saneamento, desenvolver uma rede nacional de plataformas logísticas e as redes nacionais de transportes e de acessibilidades, bem como fomentar a diversificação da estrutura económica, proporcionar um ambiente macroeconómico favorável ao investimento privado, desenvolver e promover investimentos públicos e privados, apoiar à criação, reestruturação e reforço de micro, médias e grandes empresas e promover a formalização da economia.

Durante a concepção do estudo que factores foram tidos em conta para a sua concretização? Não terá havido algum défice em termos de informação empresarial?

O estudo teve por base duas grandes metodologias de análise da competitividade das economias, e respectivos sectores económicos, o modelo de Diamante de Michael Porter e o Global Competitveness Index, do Fórum Económico Mundial. Realizamos ainda um levantamento exaustivo de informação quer através de fontes secundárias, nacionais e internacionais, quer realizando entrevistas a cerca de 30 grandes empresas e grupos empresariais angolanos, promovendo um inquérito numa base de dados aleatória de três mil empresas de diversas dimensões e reunindo com institutos governamentais responsáveis pelos diversos sectores da economia angolana. A maior dificuldade de informação prendeu-se com a inexistência de muitos indicadores.

Aqui as grandes empresas aparecem a promover os seus negócios, mas o país desenvolve-se com micro, pequenas e médias empresas. Estas não foram tidas em conta?

O IFE orienta a sua actividade para as grandes empresas e grupos empresariais enquadrados nos clusters económicos e de infra- -estruturas definidos como prioritários pelo Governo. O IFE desenvolve iniciativas alinhadas com o Programa Executivo do Ministério da Economia, que tem por objectivo desenvolver em cada cluster prioritário, identificado no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, acções de apoio directo às grandes empresas que tenham capacidade de estimular o desenvolvimento de fileiras produtivas e o crescimento das micro, pequenas e médias empresas. O estudo foi realizado de forma transversal à economia, olhando-se para actividades como o comércio informal, pesca artesanal, numa lógica de cadeias de valor sectoriais e arrastamento entre dimensões. No que concerne à actuação do IFE, o que se pretende é criar novas grandes empresas, reforçar a actividade das existentes e reestruturar financeira e organizacionalmente as empresas âncora, nos sectores prioritários definidos pelo Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017.

Qual é o ponto de vista do IFE sobre o actual momento da economia angolana?

Segundo as diversas recolhas de testemunhos e entrevistas realizadas uma opinião foi unânime: o dinamismo da economia Angola é claramente visível. Ainda que conscientes que existe um longo caminho a percorrer, é visível que este mesmo caminho já se encontra a ser percorrido. No panorama mundial as economias mais avançadas e competitivas encontram-se, após alguns anos de crescimento consecutivo, a tentar compreender como ultrapassar a crise que se instalou nos seus sistemas financeiros, que abalou os sistemas de consumo, produtivo e a economia real. Angola é uma das economias mundiais com maior crescimento económico.

Não obstante o crescimento económico, este ainda está longe de se reflectir na melhoria da vida dos angolanos.

Em primeiro lugar, permita-me discordar. Se há alguma coisa que tem mudado nos últimos tempos é a vida dos angolanos. Ainda estamos longe dos objectivos ideais e daqueles que nos propomos para uma Angola mais forte, mais justa e mais equilibrada, mas nos últimos tempos percorremos já um longo caminho. O rendimento bruto per capita anual, por exemplo, aumentou de 2.018 dólares, em 2000, para 4.812 dólares, em 2012.

Em Angola o petróleo e os diamantes continuam a ser os sustentáculos do país. Até que ponto com o quadro da diversificação pode inverter este cenário?

Angola apresenta, em termos globais, níveis de competitividade reduzidos e todos os sectores de actividade continuam a enfrentar constrangimentos significativos ao nível das infra-estruturas, formação, gestão e financiamento. Existem dois sectores que se apresentam como mais competitivos, nomeadamente as actividades económicas relacionadas com o petróleo e os diamantes. Estes dois sectores, com elevada representatividade no Produto Interno Bruto nacional (49,8%), comparativamente com restantes sectores, apresentam maiores níveis de competitividade.

E quais são os sectores menos competitivos?

Os sectores com menores níveis de competitividade são a agricultura, florestas e pescas, a educação e a energia, água e saneamento. Estes três sectores são fundamentais para o desenvolvimento de toda a economia, uma vez que são impulsionadores dos restantes sectores económicos. Segundo o Banco Nacional de Angola, com bases ainda baixas, os sectores da agricultura e construção foram os que apresentaram maior crescimento, aumentando o seu peso no PIB cerca de 3 pontos percentuais entre 2008 e 2011, nomeadamente de 6,6% para 9,3% (agricultura) e de 5,2% para 7,9% (construção), seguidos do sector do comércio e retalho, com um aumento do seu peso em 2p.p. (17,9% para 20%). A longo prazo não é sustentável termos esta dualidade de sectores no topo da competitividade.

Aqui quase tudo é importado, até os bens mais básicos, não acha que esse quadro pode ser invertido a breve trecho?

O âmbito de actuação do IFE e este estudo vão no sentido de nos apoiar de forma prática a invertermos gradualmente este cenário. Na nossa opinião, e depois de analisar as nossas importações, isso só é possível através de uma aposta clara na sua substituição por produção interna, nomeadamente no que concerne aos bens básicos. Passa, na nossa opinião, pela aposta na agricultura, fazendo este sector crescer e aumentar a sua competitividade (por exemplo, hoje é já visível em alguns supermercados a comercialização de frutas e legumes nacionais, a melhores preços e de excelente qualidade). A outra aposta forte é na indústria transformadora, nomeadamente na área da produção de bens alimentares, que contribuirá inequivocamente para a descida dos preços, para o aumento da higiene, segurança e qualidade dos bens alimentares e para um maior acesso aos mesmos a toda a população.

Mas a escassez de quadros especializados é tida ainda como um grande obstáculo ao desenvolvimento do país. Até que ponto isso se reflecte no fomento empresarial?

O grande desafio do país é: como crescer rapidamente sem os níveis de formação e educação que as economias modernas exigem? Angola, durante um longo período não foi capaz de formar a sua população e hoje a sua capacidade financeira permite-lhe almejar concorrer e posicionar-se entre os melhores, mas a falta de quadros especializados a todos os níveis não lhe permite os níveis de fomento empresarial que o mercado doméstico e de consumo começam a exigir. Desta forma, terá que importar e transferir esse know-how para o seio das suas empresas, apostando nos mercados de trabalho internacional.

Que comentário se lhe oferece fazer relativamente à elevada taxa de insucesso das empresas angolanas. Entre 100 criadas, apenas três conseguem sobreviver após um ano?

Não deixa de ser preocupante, numa altura em que se pretende relançar os diversos sectores da economia nacional. É por estramos cientes desta realidade que nos propusemos fazer este estudo, com vista a informar o tecido empresarial sobre os actuais níveis de competitividade dos diversos sectores. O IFE pretende assumir um papel de facilitador no processo de fomento empresarial, em áreas como o apoio directo à gestão, ao planeamento estratégico, instrumentos financeiros, networking nacional e internacional, entre outros, promovendo a criação de novas grandes empresas, o reforço da actividade existente e a reestruturação financeira e organizacional das empresas que diariamente contribuem para o desenvolvimento económico do país.

Esse problema não está relacionado com o difícil acesso a financiamentos?

O financiamento às actividades económicas e produtivas está, em todas as economias, relacionado com a capacidade e garantias de retorno associadas a um determinado projecto e respectivos empreendedores. O negócio de uma instituição financeira bancária está relacionado com a sua actividade de financiamento, sendo que as mesmas têm todo o interesse em financiar projectos a empreendedores credíveis, com metas rentáveis.Em Angola, as empresas têm problemas estruturantes na sua gestão, falta de planeamento estratégico e deficiências na preparação de estudos de viabilidade credíveis e sustentáveis. Esta situação dificulta o acesso ao financiamento.

E quanto às recentes acusações do Executivo à banca comercial sobre o insucesso do Programa Angola Investe, nomeadamente os constrangimentos sobre a lenta resposta da banca aos pedidos de financiamento aos empresários?

O IFE, à semelhança do INAPEM, é tutelado pelo Ministério de Economia, mas orienta a sua actividade para as grandes empresas, enquanto âncoras dinamizadoras das cadeias de valor dos sectores onde actuam. Nesta medida, qualquer consideração ao projecto referido obrigar-nos-ia a sair da nossa área de actuação e a concluir juízos de valor sobre uma matéria que não conhecemos com a profundidade necessária.

Mas os bancos dizem que os projectos recepcionados não dispõem do mínimo de qualidade apresentando riscos de financiamento. Isso tem alguma verdade?

Como já referi anteriormente em Angola, as empresas têm problemas estruturantes na sua gestão, falta de planeamento estratégico e deficiências na preparação de estudos de viabilidade credíveis. Esta situação aumenta consideravelmente o risco de crédito das instituições financeiras e dificulta a análise dos projectos.