No caso de Angola, como, por exemplo, aconteceu no Brasil em várias épocas da sua conturbada história como país em desenvolvimento, pode-se esperar, com alguma certeza, o surgimento destes três efeitos imediatos à desvalorização do Kwanza.

O primeiro, o aumento dos preços, é uma consequência garantida do enfraquecimento da moeda, abrangendo todos os bens, com destaque para os bens essenciais, porque, naturalmente, passa a ser necessário uma maior quantidade de moeda para adquirir o mesmo produto, podendo este aspecto ser minimizado se, por exemplo, acontecer um aumento proporcional dos salários.

Os efeitos sociais tendem a ser mais impactantes nas classes médias, porque estas são caracterizadas por uma dependência exclusiva dos seus salários, sendo os mais pobres menos impactados porque, como é comum dizer, quando se está no chão, é difícil descer mais, e os ricos aguentam bem aumentos de preços, embora não seja de ignorar que as suas deslocações para o exterior, em férias ou por outras razões, sofrem um relevante acréscimo nos custos.

Os únicos beneficiados de forma directa são os estrangeiros, ou cidadãos nacionais, cujos rendimentos, em salários ou outros, são em moeda estrangeira, especialmente em dólares ou euros, aquelas que, no que diz respeito a Angola, mais importância têm nas trocas comerciais do país.

O segundo efeito que se espera de uma desvalorização cambial é um desincentivo ao investimento, porque, como é normal, quando os investidores colocam o seu dinheiro numa economia, esperam um rendimento subsequente que justifique essa aposta, e uma desvalorização da moeda implica, como é evidente, maior dificuldade em transformar, no caso do investimento estrangeiro isso é por demais óbvio, as mais-valias em divisas exportáveis para os seus países de origem.

Isto tudo, porque os investidores, sejam nacionais ou estrangeiros, precisam de garantias de estabilidade cambial porque só assim podem estabelecer metas minimamente fiáveis e planos concretizáveis sem sobressaltos impeditivos.

Uma moeda saltitante não permite a tranquilidade e o controlo de risco que a maioria dos investidores precisa para avançar. O que um investidor experiente mais detesta é a incerteza... e incerteza é o que mais garante uma moeda que desvaloriza com regularidade e sem garantias de que não volta a suceder em pouco tempo, como é o caso dos países menos organizados, condição a que Angola pode corresponder em termos económicos.

O terceiro efeito, que para alguns economistas que transportam uma carga mais ideológica, a desvalorização cambial é o instrumento mais eficaz para fazer acelerar as exportações e, consequentemente, desenvolver o sector industrial ou agro-industrial através das vendas para o exterior, permitindo não só mas também atrair divisas para o país.

Isto, porque este pensamento é sustentado numa equação simples: se a industria e a agro-indústria vendem mais para o exterior, investem mais, e isso arrasta positivamente toda a restante economia, nomeadamente os salários em alta, o que permite às populações ver a sua qualidade de vida melhorada através do aumento da sua capacidade de aquisição de bens.

Mas esta teoria tem alguns contras, sendo que um dos cimeiros é que os sectores exportadores de países em desenvolvimento carecem como pão para a boca de importar também, desde maquinaria a pessoal qualificado que tende a não existir ou, quando existe, só existe em tese, porque os seus sistemas de ensino não têm, por norma, a qualidade do ensino dos países mais desenvolvidos e essa falta de qualidade reflecte-se na qualidade da produção, que, por norma, gera menos-valias em termos comparativos com os mercados exportadores que se batem no mesmo campeonato.

Em suma, se a desvalorização da moeda obrigar a um aumento dos custos de produção pelas razões já sublinhadas - necessidade de importar maquinaria e matéria-prima mais cara ou atrair pessoal qualificado -, então é com naturalidade que se constatará que os ganhos em competitividade esperados podem transformar-se em pesadelos incontornáveis.

Mas, como bem se sabe, as teorias económicas são como as chuvas, não acontecem só porque o calendário diz que é o tempo delas.