Ao mudar a embaixada de Tel Aviv, a capital reconhecida pela comunidade internacional de Israel, os EUA não só desafiam o consenso geral como ainda formalizam o reconhecimento de Washington à pretensão israelita de fazer da disputada Cidade Santa a sua capital política.

Este novo patamar de desafio ao periclitante equilíbrio na região pode ter como primeira reacção o início de um novo período de instabilidade alimentado pelo desígnio do mundo árabe de ver Jerusálem como a capital da palestina.

E o perigo de um conflito militar de larga escala no Médio Oriente pode ter já começado numa igualmente quente região, que Israel ocupa contra o Direito internacional desde 1967.

Nos últimos dias, os Montes Golã, território sírio que Israel anexou oficialmente em 1981 mas que ocupava desde 1967, foram palco dos mais violentos confrontos directos entre as forças do Irão e o Exército israelita desde o início da década de 1970.

Estes ataques mútuos - será muito difícil definir quem disparou o primeiro míssil, visto que os dois países são inimigos declarados há décadas, e um dos focos mais intensos do perpétuo caldeirão que é o Médio Oriente - tiveram um novo impulso com a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão.

Nesta cronologia - EUA rasgam acordo nuclear com o Irão, intensificar dos ataques directos entre Israel e as forças iranianas posicionadas na Síria e a inauguração da Embaixada dos EUA em Jerusalém, com oposição clara da generalidade do universo islâmico -, é difícil perceber qual o próximo episódio, mas os analistas que seguem mais de perto o Médio Oriente admitem que a questão de Jerusalém pode reequilibrar as forças, visto que a Arábia Saudita, que se aliou tacitamente a Israel contra o Irão, está com a restante comunidade muçulmana na oposição à decisão de Donald Trump em transferir a Embaixada para a Cidade Santa.

A instigar ainda mais os ânimos, já de si inflamados, o Presidente dos Estados Unidos optou pelo reconhecimento unilateral de Jerusalém como capital de Israel, marcando esta importante deslocação da embaixada com o 70º aniversário da criação do Estado de Israel.

O Estado judaico foi criado em 1948, a 14 de Maio, com a proclamação do seu evento feita por Bem Gurion, logo após a oclusão do domínio britânico da região Palestina.

Foi esta criação que levou aos diversos conflitos entre os países árabes e Israel, como é disso exemplo a Guerra dos Seis Dias, em 1967, ou a do Yon Kippur, em 1973, na qual Israel anexou os Montes Golã. Nestes conflitos, Israel saiu sempre vencedor, excepto em 2006, quando, num conflito aberto com a milícia do Hezbollah, apoiada pelo Irão, onde foi pesadamente derrotado.