Depois de num primeiro momento ter surpreendido o mundo anunciando que aceitava a derrota, o que iria permitir a primeira transição de poder pacífica desde a independência da Gâmbia, em 1965, eis que dias depois voltou com a palavra atrás, assumindo de novo a pele de um dos líderes africanos mais instáveis e truculentos.

Jameeh, de 51 anos, assumiu o poder, através de um golpe de Estado em 1994 e, num processo eleitoral globalmente considerado irregular, tal como as seguintes eleições que o mantiveram no poder até hoje, fez-se eleger em 1996.

Impos um regime autoritário e pouco dado a aceitar a oposição, com registo de permanentes prisões de opositores políticos e uma quase total ausência de liberdade de imprensa, querendo agora convencer a comunidade internacional que foi possível à oposição ter conquistado a maior parte dos votos através de "graves irregularidades", como se o próprio não tivesse um controlo absoluto sobre o que se passa no país.

Para o convencer a manter a aceitação da vitória de Barrow, uma delegação de peso da CEDEAO, liderada pela Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e ainda composta pelo Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, do Gana, John Dramani Mahama, e da Serra Leoa Ernest Bai Koroma, deslocou-se a Banjul, capital da Gâmbia.

"Não foi possível chegar a um acordo", disse Sirleaf, no final do primeiro encontro com Jammeh, admitindo, contudo, que a delegação não vai desistir à primeira, anunciado que o trabalho vai continuar e que pode ser longo, porque "o que a CEDEAO quer é ajudar a Gâmbia a criar condições para a sua transição" de poder.

Depois do encontro com Yahya Jammeh, Sirleaf e os restantes líderes estiveram com as partes interessadas, incluindo outras forças políticas, estando agora prevista a continuidade dos trabalhos numa reunião alargada da CEDEAO em Abuja, a capital nigeriana.

O problema que agora a CEDEAO tem em mãos e está a tentar resolver, até porque depois de episódios semelhantes em resultado de eleições, como aconteceu na Guiné-Bissau ou na Costa do Marfim, esta organização da África Ocidental comprometeu-se a não permitir um único caso de tomada do poder por meios inconstitucionais. Este caso agora na Gâmbia é claramente um deles.

Tudo porque, após as eleições de 01 de Dezembro, Jameeh anunciou que aceitava a vitória de Adama Barrow mas, no passado dia 09, foi à televisão pública dizer que as eleições estavam anuladas por irregularidades cometidas pelo seu adversário, e vencedor declarado, abrindo uma crise política, mais uma neste pequeno país com uma longa história de intentonas e violência política.

Para já, a oposição já disse que não vai aceitar quaisquer acordos de transição nem de partilha de poder, mas já começaram a surgir notícias de movimentações das forças de segurança e o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas já disse estar do lado do Presidente Jammeh... porque é ele que lhe "paga o salário".