Bem a propósito da celebração do nosso continente, recordo-me que há uns poucos anos festejamos esta ocasião no clube Formigas do Cazenga, sob a protecção da nossa centenária e frondosa mulembeira, com uma tertúlia animada por um bom amigo de casa, o jornalista Adebayo Vunge que, de forma absolutamente magistral fez um "périplo" pela sua gloriosa trajectória histórica.

Foi realmente uma viagem maravilhosa para o passado, um momento espiritualmente forte de conexão com a nossa ancestralidade, desde a Lucy, o mais antigo ser humano conhecido, ao Egipto - negro africano, como fazia questão de referenciar o historiador senegalês, Cheik Anta Diop, que civilizou a Grécia e a Roma Antiga, a prosperidade e exuberância económica do Reino do Mali, a imensidão e poderio do reino do Congo que se estendia desde cá até aos Camarões , passando pelos quatro séculos tenebrosos de escravização das nossa gentes, pelo período do resplendor africano , com o advento das independências nacionais, até aos dias de hoje em que a esperança no porvir felizmente permanece viva.

Ao ouvir os relatos do nosso convidado Adebayo Vunge, os olhos das nossas crianças, meninas e rapazes do Cazenga, brilhavam de encanto pelo prazer da descoberta. Como é tão bom estudar! Foi a frase que mais ouvi ditas pelos miúdos durante alguns dias.

Na sequencia deste momento e de outros que temos vivenciado aqui no formigueiro, fortalecemos a nossa firme convicção que a educação e o desporto não só andam de mãos dadas como são verdadeiros gémeos siameses.

Aqui no Cazenga, segundo dados mais recentes, existem cerca de 9.000 de estabelecimentos de ensino, x mil estudantes, sendo x públicos e privados...

A qualidade do ensino é um tema que deveria ser uma preocupação para cada um de nós, enquanto cidadãos.

No Clube Formigas, com o suporte da Total, do grupo Castel, da Embaixada Francesa e de outras instituições deste país, criamos uma sala popular de leitura que já conta com mais de mil livros e instituímos um programa de aulas de reforço em ciências exactas como matemática, química, física e línguas inglesa e francesa e os resultados têm sido absolutamente extraordinários.

Há alguns dias vi uma reportagem televisiva sobre o lançamento da primeira pedra para a construção da quinta Escola Eiffel em Angola, na província do Moxico, numa importante iniciativa suportada pela Total Energies e pela Embaixada da França. Os outros quatros colégios desta rede criada em 2008 estão situados no Bengo, no Kwanza-Norte, em Malange e no Cunene, sendo escolas públicas angolanas com ensino bilingue, em francês e inglês, precisamente nas disciplinas de química, física e matemática que são as o clube tem igualmente dedicado a sua atenção.

Criar centros de saber públicos, gratuitos e de qualidade em português e francês, para que jovens angolanos, independentemente do seu extrato social, possam ter a oportunidade de ter acesso à um ensino de qualidade diferenciada é uma generosa iniciativa francesa com a qual comungamos plenamente aqui no nosso formigueiro.

Já agora, e porque sonhar não é proibido, porque não associarmos a escola 3050 do Cazenga à rede de ensino Eiffel em Angola, proporcionado à Luanda e ao Cazenga em particular, a oportunidade de se beneficiarem do seu ensino de excelência? Eis o nosso desafio! n

*Jurista e presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga