Num discurso já em tom de despedida, no penúltimo dia da visita de Estado a Angola, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que irá regressar a Portugal "saudoso e solidário".

"Agradeço a Angola, ao povo angolano, agradeço a esse nosso povo irmão, mas agradeço também a vossa excelência, senhor Presidente, a generosidade com que me acolheram e que nunca mais esquecerei na minha vida", disse o PR português.

"Saudoso e solidário, com a vossa gesta nacional, com a sua política, senhor Presidente, com esse percurso imparável legitimamente ambicionando converter o sonho fundador venerado no Memorial Agostinho Neto numa dimensão de potência regional, continental e com afirmação no mundo", acrescentou.

O Presidente português reforçou a ideia de que se entrou num "novo ciclo" nas relações bilaterais: "Os senhores diplomatas aqui presentes compreenderão que uma página essencial foi virada e que um novo capítulo da nossa história comum foi aberto, a pensar no futuro".

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, neste "novo ciclo" existe uma "parceria privilegiada" também no plano multilateral, em organizações como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ou as Nações Unidas (ONU).

O chefe de Estado português agradeceu a forma como foi acolhido em Angola, disse que nunca mais esquecerá esta visita e acima de tudo o contacto com a população, "a verdade do abraço, do beijo, do olhar, da palavra de um sem número de angolanos que amam Portugal e de um sem número de portugueses que amam Angola".

No seu entender, "isso valeu e vale ainda mais do que seis meses de labuta em torno de 35 acordos, de certificações de dívida, de estímulos ao investimento, de cooperação na educação, na saúde, na segurança social, na Administração Pública, no poder local, na justiça e na defesa".

"Porque são os povos, e só eles, a razão de ser dos poderes políticos, dos políticos - não o amor-próprio, não a vaidade, não a conveniência, não a ambição", argumentou.

Dirigindo-se a João Lourenço, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que aquilo que mais o tocou nesta visita "foi o encontro com as pessoas, todas e cada uma, a começar nas mais simples, nas mais directas, nas mais frontais, nas mais terra-a-terra ".

"Aí pude ver o que tantas vezes recordei: bem podem os que têm poder zangar-se - o que não é, nem será o caso - que a força do que nos une a todos resiste porque é baseada numa fraternidade indestrutível", afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa realiza esta visita de Estado a Angola cerca de três meses depois de ter recebido em Portugal, também em visita de Estado, o Presidente angolano, João Lourenço, que tomou posse em setembro de 2017, após 38 anos com José Eduardo dos Santos no poder.

Num registo emotivo, o chefe de Estado português expressou "antecipadas saudades" destes dias em Angola, onde está desde terça-feira e de onde partirá este sábado. "Não mais esquecerei", repetiu.

"Não mais esquecerei a amizade do convite, da condecoração, da cuidadosa recepção", referiu, lembrando os diversos pontos do programa, dividido entre a capital angolana e as províncias de Benguela e da Huíla, a sul.

"Não mais esquecerei a as duas horas com multidões contínuas no Lubango dependurado do veículo automóvel, ou a viagem de comboio entre Lobito e Benguela, ou o envolvente acolhimento em Catumbela, ou os passeios noturnos na marginal de Luanda ou no Lobito, ouvindo, aprendendo, dando e recebendo", prosseguiu.

Marcelo Rebelo de Sousa mencionou também "o entusiasmo dos mais velhos ao vibrarem com o Porto ou o Benfica nas competições europeias" e "o exemplo do piloto angolano de Fórmula 3, de 19 anos, que concorre com as bandeiras angolana e portuguesa nos campeonatos europeus, ele que também tem nacionalidade portuguesa".

"Eis, pois, senhor Presidente, porque parto saudoso, muito saudoso, destes dias que até me fizeram lembrar a Casa Catonho Tonho, criada por meu avô no centro de Luanda há mais de cem anos", explicou, observando: "As raízes acabam por marcar o nosso destino".

No dia em que se celebrou o Dia da Mulher, o chefe de Estado português prestou homenagem "a todas as mulheres angolanas, lutadoras, conquistadoras, rainhas, trabalhadores, resistentes, pilares de uma nação inovadora a recriar o seu futuro", o que lhe valeu uma salva de palmas.

No final do discurso, Marcelo Rebelo de Sousa saudou "a portentosa saga" de Angola.

Depois, os chefes de Estado angolano e português e os restantes convidados assistiram a actuações musicais dos cantores angolanos Kyaku Kyadaff, natural da província do Zaire, no norte de Angola, e Yola Semedo, do Lobito, e da fadista portuguesa Gisela João.