O destino está traçado assim que atingem a puberdade: Durante três dias, as meninas das aldeias mais remotas do Sul do Malawi são obrigadas a perder a virgindade com uma "hiena", nome que se dá aos homens pagos - pelo valor equivalente a no máximo sete dólares por acto - para iniciarem as menores na vida adulta.

"Não havia nada que pudesse fazer. Tive de obedecer pelo bem dos meus pais. Se tivesse recusado, os meus familiares poderiam ser "atacados" por doenças e até com a morte, por isso tive medo", conta à BBC uma das menores já submetida à "protecção" de uma hiena.

A tradição, apresentada num documentário da cadeia britânica, cumpre-se sem o uso de preservativos, expondo por isso as meninas a uma série de doenças sexualmente transmissíveis, sobretudo a SIDA, um dos calcanhares de Aquiles do país.

O risco de contágio não parece contudo inquietar os defensores do ritual, que o promovem não apenas como uma forma de combater infortúnios para as famílias, mas também como meio de proteger as mulheres de problemas de saúde.

Segundo relata o jornalista Ed Butler, que falou com uma das "hienas", da mesma forma que as menores são orientadas para perder a virgindade assim que atingem a puberdade, também as viúvas e quem tenha sofrido abortos ou não consiga engravidar são encaminhadas para a "limpeza sexual", perpetuada pelas próprias mulheres.

"Não há nada de errado na nossa cultura. Se observar as sociedades modernas, vemos que as raparigas não são responsáveis, por isso temos de treiná-las nas nossas comunidades para serem boas mulheres, deixarem os maridos satisfeitos, e para que nada de mal aconteça com as suas famílias", disse à BBC uma das mais-velhas, que assume o dever de orientar as raparigas, da mesma forma que as "hienas" defendem o seu papel.

"Todas estas raparigas têm prazer ao ter-me como a 'hiena' delas. Na verdade, ficam orgulhosas e contam às outras pessoas que este homem é um macho a sério, que sabe como agradar uma mulher", relatou Eric Avina (na foto) à cadeia britânica. Apesar de ser seropositivo, o homem continua a iniciar as raparigas sem qualquer protecção nem controlo.

"Não vamos condenar estas pessoas", comentou May Shaba, secretário permanente do Ministério do Género e do Bem-estar, limitando a acção governamental à comunicação: "Daremos a essas pessoas a informação de que precisam para mudarem os rituais".