Nesta segunda-feira, 13, início de nova semana, os mercados estão a mostrar um novo fulgor, diluindo a angústia das sofridas economias, como a angolana, que dependem deste sobe e desce permanente, na passada sexta-feira.

Há quase seis meses que o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, não entrava tanto pelo pipeline dos baixos preços, chegando aos 60,4 USD na sexta, 10, valor só visto em Maio.

Por detrás de tamanha perda, para um valor quase 10 USD abaixo do preço de referência médio usado no OGE 2025 angolano, esteve o acordo de paz em Gaza, entre o Hamas e Israel, mediado pelos EUA, Egipto, Catar...

O que alguns analistas consideram estranho, porque com a paz em Gaza, aumentam as probabilidades de Israel voltar a apontar baterias para o Irão, esse sim grande produtor e exportador do Golfo Pérsico, o que deveria ter um efeito contrário, de acordo com essa lógica.

Mas se há um ensinamento presente em que lida com os mercados energéticos é que a lógica é um "verme" muito escorregadio e maleável, como se vê, depois das notícias do reforço militar norte-americano na sua maior base da região, no Catar, o que, normalmente é visto como uma preparação para ameaçar ou atacar Teerão.

Mas a verdade dos números trazida à tona nesta segunda-feira, 13, é que essa queda no abismo da passada semana está a ser aliviada pelas notícias da Reuters e da Bloomberg, entre outros, de uma refocagem da atenção dos analistas paara a possibilidade de americanos e chineses alcançarem a paz tarifária...

Isto, porque os Presidentes Donald Trump e Xi Jinping mantém a porta entreaberta para um tête-à-tête na Coreia do Sul, no final do mês, à margem do Fórum Económico Ásia-Pacífico, apesar de alguma fricção devido às persistentes ameaças da Casa Branca aplicar novas tarifas às importações chinesas.

A questão actual é a aparente decisão de Pequim restringir ainda mais as exportações de algumas das "terras raras" cuja mineração e refinação controla a quase 100% em todo o mundo, e são fundamentais para as indústrias 2.0 norte-americanas, incluindo a militar e aeronáutica.

Tratando-se dos dois maiores consumidores mundiais de crude e as duas maiores potências económicas planetárias, qualquer adstringência entre ambos provoca um vendaval nos mercados energéticos... mas todos os sinais de acalmia, produzem efeitos contrários.

É o que está a acontecer nesta segunda, 13, depois do aperto chinês sobre as terras raras e a ameaça de Trump aumentar em mais 100% as tarifas sobre as importações Made in China e a questionar a utilidade do encontro na Coreia do Sul.

O sentimento cinzento mudou, todavia, depois de o representante norte-americano nas negociações com Pequim, Jamison Greer, ter vindo agora sublinhar que o encontro pode mesmo vir a acontecer.

E, além disso, dados recentes, mostram que as importações de crude pela China estão, de novo, a entrar num período auspicioso, com a Reuters a anunciar que em Setembro cresceram 3,9% face ao mesmo período do ano passado, para 11,5 mbpd.

E é assim, neste misto de emoções fortes, e lógicas por cumprir, que o barril de Brent chegou esta segunda-feira, 13, perto das 11:40, hora de Luanda, aos 63,2 USD, mais 1,1 % que no fecho da última sessão.

Mais uma razão para Angola não perder os mercados de vista

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.

Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.