Numa análise aos desafios económicos que Angola atravessa - com destaque para a queda do preço do petróleo, a diversificação da economia e a crise de divisas -, Alex Vines, director do Programa África do Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido, aponta as prioridades que devem guiar o mandato do futuro Chefe de Estado e do Executivo.

"O novo Presidente, provavelmente João Lourenço, vai ter de considerar a possibilidade de uma assistência financeira, e acho que é um cenário provável Angola recorrer ao Programa de Financiamento Ampliado [Extended Fund Facility, em inglês] no princípio do próximo ano, depois de o período eleitoral passar", considera o especialista, apologista da presença do FMI no país.

"Fiquei mesmo decepcionado quando rejeitaram o EFF, porque era mesmo o que o país precisava; a disciplina e a parceria com o FMI seria boa, mas isto não aconteceu porque os preços do petróleo melhoraram e porque, mais importante, as autoridades olharam para isto e pensaram que não queriam constrangimentos sobre a despesa num período pré-eleitoral", disse Alex Vines à Lusa.

Na entrevista, realizada em Londres, o responsável elege ainda como prioridade da próxima liderança a substituição do governador do BNA, Valter Silva, e do ministro das Finanças, Archer Mangueira.

"Há uma aguda crise de liquidez, uma significativa crise bancária de acesso a divisas estrangeiras, particularmente dólares, e uma das coisas que João Lourenço deverá fazer rapidamente é mudar o governador do banco central de Angola", defende o especialista, propondo igualmente a saída do ministro das Finanças, "já que são duas posições-chave neste processo".

Alex Vines sublinha ainda que "uma Sonangol eficiente e reformada é essencial para o desenvolvimento do país", tendo em conta que a economia angolana permanece dependente do petróleo, realidade que o especialista considera ser urgente mudar.

"Lourenço, ou seja quem for, vai ter mesmo de fazer uma mudança estrutural sobre a implementação de diversificação, porque toda a gente fala nisso há décadas mas agora tem mesmo de ser a sério, porque não há outra escolha", reforçou Vines.

O director do Programa África do Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido alerta ainda para a quebra significativa das reservas angolanas.

O Governo "pensou que a descida do preço do petróleo seria passageira, e que podiam aguentar-se uns 18 meses com preços baixos", analisa Alex Vines, rematando: "Agora estamos em terreno desconhecido, que ninguém esperava em Angola".