O pânico tomou conta dos mercados e os analistas começaram de imediato a especular sobre uma eventual crise petrolífera, embora esse sentimento seja mitigado porque os ataques que deixaram duas das principais estruturas produtivas sauditas tenham ocorrido no Sábado, quando os gráficos do Brent londrino, que determina o valor médio das exportações angolanas, e os restantes "medidores" internacionais estão fora de serviço devido ao fim-de-semana.

O site OilPrice, por exemplo, publicou um texto do analista Michael Kern onde este admite que o barril voe para os 100 USD a partir de segunda-feira depois de ter sido conhecido o resultado dos ataques dos rebeldes houthis - que travam uma guerra contra o Governo do vizinho Iémen, um aliado dos sauditas, alegadamente apoiados pelo Irão -, sendo que, segundo os dados actuais, pelo menos metade da produção da Arábia Saudita ficou bloqueada e inacessível para os mercados.

Este ataque às duas refinarias, uma delas a com maior capacidade em todo o planeta, para além do potencial de elevar de forma significativa o valor do barril, pode ainda revelar-se como um tremendo factor de novas e mais pesadas tensões na já de si volátil região do Médio Oriente.

Segundo a petrolífera nacional saudita, a Saudi Aramco, este ataque vai "secar" menos 5,7 milhões de barris por dia (mbpd) de um momento para o outro nos mercados, o que representa uns incríveis 5% da produção mundial, o que não deixa margem para dúvidas sobre o forte impacto esperado para segunda-feira, embora ninguém se atreva neste momento a avançar certezas.

Os ataques às infra-estruturas sauditas não são os primeiros, porque mísseis lançados de território iemenita sob controlo houthi já caíram sobre oleodutos sauditas, ou ainda contra petroleiros ao largo do Golfo Pérsico, por onde passam mais de 20 por cento do crude mundial, mas a natureza destes que ocorreram no Sábado ultrapassam em muito os anteriores, tanto em violência como nas consequências.

As duas infra-estruturas atingidas estão situadas na área intermédia da indústria, servindo de processamento do crude que chega dos campos petroliferos para o introduzir no sistema de exportação, via oleodutos ou para embarcar nos gigantescos petroleiros que levam a matéria-prima para os quatro cantos do mundo, o que, como a Saudi Aramco já admitiu, interrompe toda a cadeia desta indústria para pelo menos 5,7 mbpd, os tais 5% do consumo global diário.

Recorde-se que a Arábia Saudita e a Rússia, os dois maiores potencialmente produtores mundiais, lideram uma estratégia no sei da OPEP+, organismo ad hoc que surgiu da junção de esforços de Moscovo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para retirar, actualmente, 1,2 mbpd do mercado como forma de manter os preços do barril em alta.

E se essa estratégia apenas conseguiu evitar, para já, que o barril tombasse abaixo dos 60 USD, agora, com este surpreendente, mas não totalmente inesperado, ataque da guerrilha ao coração da indústria petrolífera saudita, ninguém pode garantir o que vai acontecer já amanhã, assim que abrirem os mercados, mas uma coisa é assegurada pelas circunstâncias: a subida do valor do barril. Só não se sabe quanto, embora já tenham sido avançadas projecções para os 100 USD.

Actualmente, os sauditas injectam pouco mais de 7 mbpd no mercado, mesmo que a sua capacidade máxima de produção possa ser alongada para próximo dos 12 mbpd (antes dos ataques).

Logo que os rebeldes houthis, que combatem as forças governamentais iemenitas, no vizinho Iémen, reivindicaram os ataques mais audazes e destruidores desde que o conflito deflagrou, de forma aberta, em 2004, tendo depois evoluído para uma guerra civil que levou a que este país viva actualmente uma situação de tragédia humanitária sem precedentes, os Estados Unidos já vieram culpar o Irão por estar por detrás das explosões.

Mike Pompeo, o Secretário de Estado norte-americano, disse mesmo nas redes sociais que não há evidências de que os ataques sejam mesmo de autoria houthi, admitindo que possam ter partido do Irão, o que teria consequências muito mais devastadores para a paz na região.