Por detrás do pessimismo que se instalou nos mercados petrolíferos nos últimos dias, especialmente nas passadas quinta e sexta-feira, está o agressivo regresso da subida dos números da pandemia da Covid-19, com alguns países a darem início a novos confinamentos, embora menos agressivos que os de Março, e o receio sólido de que a procura venha a decair com o abrandamento das grandes economias, desde logo as da União Europeia e dos EUA.

Só na passada sexta-feira, o crude caiu mais de 3%, no epílogo da pior semana desde Junho, tendo como pano de fundo o abrandamento esperado para as economias mais pujantes devido ao acelerar da "segunda vaga" da pandemia do novo coronavírus que, mesmo tendo poupado o gigante asiático, a China, a 2ª maior economia e o 2º maro consumidor de petróleo mundial, onde, afinal, tudo começou em finais de 2019, está a atingir com substantivo impacto os EUA, a maior economia do mundo e o maior consumidor planetário da matéria-prima, ou ainda os maiores sorvedouros do "ouro negro" como a Índia, o Brasil, os países europeus ou Austrália...

Na memória colectiva, e na cabeça dos "traders" ainda mais, está a queda brutal do valor do barril entre Março e Maio desde ano por causa do confinamento global para contrariar a ameaça pandémica da Covid-19, e, agora, com o refluxo do novo coronavírus, que está de novo a mostrar as garras, os mercados começam a ressentir-se, embora substancialmente menos que no início de 2020 e com o perigo diluído no maior conhecimento que se tem da infecção e ou ainda com o aproximar do calendário conhecido para o surgimento de uma vacina que possa fazer o progresso da pandemia travar a fundo.

O mau momento que pode demorrar. demorrar...

Mas, facto é que, cerca das 11:30 de hoje, o barril de Brent, e também o seu "irmão" norte-americano, o WTI, de Nova Iorque, estavam a ceder à pressão, com quedas importantes...

Brent, com contratos referentes a Outubro, estava a cair 1,64%, para os 41,95, enquanto o WTI, com as mesmas condições negociais, e à mesma hora, estava a desvalorizar 1,79%, para os 39, 08%, face ao fecho de sexta-feira, dia em que já tinha perdido mais de 3% em ambos os lados do Atlântico.

Porém, não é só da Covid-19 que se alimenta este mau momento do sector petrolífero. A Arábia Saudita acaba de dar uma ajuda, a economia norte-americana também entrou na "festa" e as notícias de fim das consequências nefastas das tempestades na infra-estrutura produtiva do Golfo do México, perfazem o trio de ataque ao bom momento que o petróleo atravessava.

Por um lado, os sauditas, que foram os principais impulsionadores dos agressivos programas de cortes à produção no seio da OPEP+, organização que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderado pela Rússia - actualmente com menos 7.7 milhões de barris por dia (mbpd) - estão agora a contorcer-se e a fazer descontos substantivos, os maiores desde Maio, segundo a Reuters, aos mercados asiáticos, pressionando os preços em baixa, embora isso se deva a uma clara diminuição da procura por parte da China.

Por outro, a economia dos EUA, que marca o "bioritmo" da procura global pela matéria-prima, está, agora que se aproximam as eleições Presidenciais, marcadas para 03 de Novembro, a mostrar sinais de quebra, com mais desemprego e, como se fosse pouco, as suas reservas de crude mostram sinais de estar a crescer devido à sua menor utilização.

Ou seja, apesar dos cortes da OPEP+ e dos esforços dos países ou dos conglomerados, como é o caso do bloco europeu para estimular as economias, com biliões injectados nestas, o mundo continua a ter uma larga margem de excesso de oferta face à procura, o que levou as refinarias de primeira linha, como as asiáticas, a diminuir as suas operações, entupindo o escorrimento a montante, que resulta naquilo que se está a ver: uma perda de valor do barril de petróleo.

De acordo com os analistas, este cenário - o pior para a economia angolana, que, como se sabe, depende largamente das exportações de crude, que representam, ainda, mais de 95% das suas exportações - deverá, muito em breve, levar a um novo turbilhão global nos mercados petrolíferos, ameaçando mesmo o regresso à fasquia dos 30 USD, o que levaria a que nem o valor de referência do OGE 2020 revisto angolano, que é de 33 USD por barril, fosse alcançado.

Uma das possibilidades em cima da mesa, entendem ainda alguns analistas, é que a OPEP+, nas suas próximas reuniões de balanço, possa reflectir sobre o volume de cortes, podendo mesmo voltar a admitir uma subida dos 7,7 mbpd actuais para os 9,7 mbpd que estiveram em vigor até 31 de Agosto, como forma de diluir o excesso de oferta.

Os cortes no seio da OPEP+, distribuídos por quotas entre os seus membros, levou a que Angola, apesar de ter uma produção em declínio evidente nos últimos anos, especialmente desde 2014, visse a organização a impor que a diminuição não realizada entre Julho e Agosto, devido a dificuldades internas, tenha de ser agora corrigida até Novembro, o que é mais uma machadada na já periclitante produção nacional, actualmente situada abaixo dos 1,3 mbpd.

Apesar de a Agência Internacional de Energia ter previsto, no início de 2019, que a produção nacional entre num declínio irreversível até 2023, onde estaria a produzir apenas 1,29 mbpd, esta já está, ainda 2020 não terminou, abaixo desse valor, contrastando de forma clara com o discurso do Presidente João Lourenço, em Outubro de 2019, no Parlamento, onde perspectivava que em 2020 o País atingisse uma produção média superior a 1,43 milhões de barris por dia.