De facto, se se "viajar" no tempo dos mercados, há 10 dias o barril de Brent estava a bater nos 92 USD e ao início da tarde de hoje, quinta-feira, 18, estava a valer menos cerca de 5 USD, o que, no negócio desta matéria-prima, consubstancia perdas importantes para países exportadores, como Angola.

Mas não é nada que já não se estivesse à espera, porque a subida substantiva desde o início de Abril é resultado directo da incandescência crescente do conflito israelo-iraniano, com o ataque de Telavive ao consulado de Teerão na capital da Síria, Damasco.

Desde esse momento, a 01 de Abril, as autoridades iranianas, especialmente o seu líder supremo, o aiatola Ali Khamenei, jurou vingança, que se veio a traduzir no histórico, por único, ataque directo do Irão a Israel com mais de 300 misseis e drones.

Com a ameaça de que tudo fosse começar a arder no Médio Oriente, as grandes potências entraram em campo para travar a impetuosidade belicista de Israel e, especialmente devido ao empenho dos Estados Unidos (ver aqui), o mundo voltou a respirar melhor... Até ver.

É que o "negócio" que permitiu reduzir os ânimos é de tal forma estranho e inusitado - trocar o ataque ao Irão por um livre-trânsito para aniquilar palestinianos em Gaza é isso mesmo - que não é possível antecipar reacções no universo islâmico-árabe da região.

A primeira reacção, ainda não definitiva, veio do Qatar, país que tem mediado as negociações entre o Hamas e Israel para resolver o conflito em Gaza, que ameaçou deixar esse papel desagrado com esta evolução da situação.

Para já, os mercados encaram a situação como uma redução substantiva da tensão, até porque está, de momento, afastado um ataque à infra-estrutura petrolífera iraniana, que garante quase 3 milhões de barris por dia (mbpd)... na sua qualidade de 3º maior produtor da OPEP.

O que é o factor principal da queda abrupta do valor do barril de Brent, que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, que estava, esta quinta-feira, perto das 15:00, hora de Luanda, a valer 87,23 USD, menos 0,18% face ao fecho de quarta-feira mas menos cinco dólares que á pouco mais de uma semana medida em dias úteis.

E isto são más notícias para Angola...

... porque, apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 87 USD, embora ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, é claramente menos frutífero para os cofres nacionais que os 92 de há alguns dias, permitindo, contido, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.