A comemoração dos Kwibuka 30 anos é uma oportunidade para os rwandeses e o mundo homenagearem as vítimas, confortarem os sobreviventes e reflectirem sobre o percurso de recuperação, reconciliação e resiliência do Rwanda, tendo a unidade nacional no centro da estabilidade e progresso do país. Durante estes 30 anos, o Rwanda tem dado ao mundo uma lição de perdão, reconciliação, amor e tolerância. Esse percurso é uma verdadeira lição para a vida.

É aplicada a designação de "genocídio" porque não se trata de incidentes isolados ou de confrontos esporádicos, mas, sim, de uma campanha preparada e sistemática destinada a eliminar toda a população Tutsi de forma geral e indiscriminada. Calcula-se que tenham morrido entre 800 mil e um milhão de pessoas e que o conflito terá causado pelo menos dois milhões de refugiados. "No Rwanda, já virámos a página, mas a mesma ideologia que justificou o genocídio contra os Tutsi continua viva e de boa saúde na nossa região. E assistimos à mesma indiferença por parte do mundo, em geral, que em 1994. É como se estas lições custosas se perdessem sempre e ficássemos a olhar cegamente enquanto o mesmo tipo de situação se repete", disse o Presidente do Rwanda, Paul Kagame.

Na verdade, na altura e até hoje, persiste certa indignação na opinião pública mundial não apenas pelo horror causado pelos massacres, mas também pela passividade e indiferença das grandes potências mundiais. O genocídio teve início a 07 de Abril e terminou a 15 de Julho de 1994, sendo que as Nações Unidas instituíram o 07 de Abril como o Dia Internacional de Reflexão do Genocídio de 1994 no Rwanda.

"Recordar, Unir e Renovar" é um lema interessante, carregado de simbolismo, mas também de muita pedagogia. É preciso incutir uma pedagogia dos afectos, para que o ódio, a intolerância e os extremos jamais voltem a ganhar espaço. É preciso que se recordem estes eventos, é preciso que ele fique bem marcado na memória dos rwandenses e dos cidadãos de todo o mundo, a fim de que se voltem a cometer atrocidades e que não se volte a errar e a odiar desta forma.

"Never again", disseram num dos discursos naquela noite de quarta-feira, 24, em Luanda. Nunca mais! Que jamais este episódio negro da História se volte a repetir. Recordar sempre, recordar para perdoar, recordar para educar, recordar para alertar que jamais volte a acontecer. Unir a nação em torno do amor, da paz, harmonia e da concórdia. O povo do Rwanda tem feito isso ao longo dos anos e tem sido um exemplo de unidade. Unir para crescer, unir para vencer, mostrando que aquilo que lhes une é ainda mais forte de que qualquer situação que lhe possa separar. Renovar é preciso.

Renovar para inovar, renovar no sentido de renascer, de mostrar um novo país ao mundo, uma nação que soube regenerar-se, um povo que soube levantar-se, um povo que sabe assumir os seus erros, as suas falhas e que não se envergonha da sua história. Um povo que faz da sua história uma lição de vida. Também devemos recordar que este genocídio do Rwanda é, hoje, uma lição para o Jornalismo, e aqui o Jornalismo esteve do lado errado da história.

O Jornalismo instigou e promoveu o ódio e a violência. O "Kwibuka" é, também, um momento para o Jornalismo reflectir sobre o seu papel na sociedade e a responsabilidade que deve assumir não só em prol do interesse público, da nobre missão de informar, mas inclusive na promoção de valores como a paz social, harmonia, unidade e patriotismo. O Rwanda é uma lição para a vida.