Por detrás deste início de conversa entre Trump, apertado pelo calendário eleitoral - as eleições presidenciais são em Novembro e quer garantir a reeleição - e Putin está a influência que possam ter sobre a Arábia Saudita, que está agora a produzir um tremendo excedente de crude - ameaçou chegar aos 12.3 milhões de barris por dia (mbpd) - com o qual inunda os mercados, sendo a consequência mais evidente o afundanço do valor do barril, que em menos de um mês perdeu 40 % do seu valor e quase 60% desde o início da pandemia da Covid-19, que está na génese de todo este drama global.

Mas o que mais interessa a Angola, para além de o esforço dos dois líderes resultar em sucesso, é que só o anúncio do começo das conversações levou os mercados a reagir em alta e o barril de Brent, vendido em Londres e onde é fixado o valor médio das exportações nacionais está hoje a ganhar mais de 3 por cento, saindo de um buraco que tinha mais de 18 anos.

Na segunda-feira, o barril chegou a bater nos 25,20 USD mas hoje, terça-feira, 31, já está a valer, perto do meio da tarde, 27,20, mais 3,8 por cento que no fecho da sessão anterior, sendo que, em pano de fundo para esta tragédia, está a crise que abrange já o mundo inteiro, mas especialmente os países produtores e em vias de desenvolvimento, como é o caso de Angola, cujos efeitos vão da confirmada necessidade de revisão do OGE 2020, ao perigo de um "default", como antecipam algumas consultoras internacionais.

Mas o que podem fazer Trump e Putin? Putin é quem tem maior responsabilidade, porque foi a Rússia que a 06 deste mês, na reunião da OPEP+ em Viena, na Áustria, se recusou a alinhar com os sauditas num aumento do volume de cortes na produção para estancar a sangria nos preços gerada pela crise económica associada à pandemia Covid-19.

E com essa recusa, fez soltar a raiva saudita, que iniciou um processo de produção máxima - pump at will -, levando a uma queda brutal na segunda-feira seguinte, a 09 deste mês, com a maior queda desde 1991, aquando do início da I Guerra do Golfo, fazendo com que o barril não mais deixasse os preços irrisórios que tem hoje, abaixo de 30 USD, uma tragédia para as contas públicas nacionais, que tinham no OGE 2020 o barril referenciado a uma média de 55 USD.

Numa chamada telefónica entre os dois, que teve lugar nas últimas horas, Trump e Putin deixaram saber os jornalistas que concordaram em meter à volta de uma mesa os seus principais homens do petróleo para discutir saída para a actual crise, o que demonstra que os russos já se arrependeram de terem ido tão longe no desafio aos sauditas e Trump quer salvar a sua indústria do petróleo de xisto, ou fracking, que nos últimos anos permitiu aos EUA passar a ser um dos três maiores produtores mundiais mas tem um problema de base substancial , que é o se breakeven, que está nos perto dos 60 USD por barril extraído através deste método, que consiste em injectar água e químicos a grandes pressões no subsolo para explodir a rocha de xisto e retirar do seu interior gás e petróleo.

Agora, resta saber como vão reagir os sauditas, mas, como sublinham alguns analistas, quando os três gigantes da produção mundial só têm a ganhar se chegarem a um acordo - que será sempre proceder de forma a fazer subir o valor do barril -, o mais natural é que um acordo seja alcançado, até porque tanto russos como sauditas atravessam severas crises nas suas contas públicas geradas pelas sucessivas perdas de valor da matéria-prima.