O impacto da epidemia por Covid-19, a nova designação para este coronavírus descoberto em Dezembro último na cidade chinesa de Wuhan, e que já fez mais de 2.000 mortos em 74 mil casos confirmados, foi de tal monta que levou a que este país, a segunda maior economia do mundo e o maior importador de crude planetário, tivesse uma quebra de 20% no seu consumo da matéria-prima em Janeiro face a igual período do ano passado.

Com este impacto, o preço do barril de Brent desceu vertiginosamente de mais de 65 USD por barril em meados de Janeiro para 53,25 a 10 de Fevereiro, o que chegou a colocar em cima da mesa a necessidade de uma revisão do OGE 2020 em Angola porque o Governo usou como valor de referência para a sua elaboração 55 dólares norte-americanos.

Mas o que empurrou em sentido descendente o valor do petróleo foi o mesmo que agora o está a levantar do chão, porque da China chegam notícias encorajadoras para um desfecho positivo no combate à epidemia de coronavírus, com o número de novos casos diários a cair sucessivamente.

No entanto, como a OMS tem alertado, ainda não é possível antever para quando a derrota do Covid-19 está prevista, sendo que as medidas draconianas tomadas em todo o mundo continuam a ser renovadas, agora, por exemplo, a Rússia depois de ter fechado as fronteiras terrestres com a China há cerca de duas semanas, veio agora informar que não permite a entrada de nenhum cidadão chinês no seu território.

Por outro lado, crescem os casos de transmissão entre pessoas sem relação nenhuma com a China ou com outras pessoas que tenham estado naquele país ou com quem tenha estado, o que significa que o contágio já está numa fase em que ocorre sem ligação ao epicentro da epidemia.

Outro ponto de focagem para as organizações mundiais que lutam contra s epidemias, como a OMS, é a questão dos cada vez em maior número navios de cruzeiro com milhares de pessoas a bordo a relatar casos e colocados em severas quarentenas em diversos portos de todo o mundo.

Mas, como se iniciou o pânico nos mercados petrolíferos, também se está a esvair apenas com base na sucessão de notícias que indicam uma diminuição no vigor da doença e hoje, cerca das 09:30, o barril de Brent estava a ser vendido a 58,73 USD, mais 0.03% que no fecho de quarta-feira, culminando 10 dias de saldo positivo de 10%.

Isto, apesar de só agora as grandes indústrias exportadoras na China, nomeadamente a indústria automóvel e as grandes marcas tecnológicas ou de vestuário internacionais estarem a retomar a laboração depois de encerramentos compulsivos devido ao pânico gerado no país com o surgimento de milhares de casos e de mortos por COvid-19.

Ao mesmo tempo, também só agora está a começar a ser possível às pessoas deslocarem-se internamente, desde que de para fora das zonas ainda em quarentena como a cidade cde Wuhan, com 11 milhões de habitantes na província de Hubei,, onde tudo começou.

No entanto, no que ajudou a esta recuperação no valor do crude, o FMI já veio garantir que a recuperação económica na China será tão ou mais rápida que o declínio gerado pela doença, o que significa que também o petróleo deverá voltar à normalidade pré-epidemia, com o barril de Brent a registar uma subida de mais de 10% em pouco mais de uma semana.

Mas estes valores estão ainda dentro das perdas registadas no mesmo período, faltando, em números redondos, cerca de 8 USD para nivelar o barril na fasquia em que estava antes dos efeitos deste coronavírus.

Mas o Covid-19 não é a única catapulta para este comportamento do barril de crude, também Donald Trump se juntou ao efeito positivo na matéria-prima com a aplicação de sanções a uma empresa de trading, a Rosneft Trading SA, subsidiária da russa Rosneft (ROSN.MM), que o Presidente dos EUA acusa de estar a fornecer uma linha de suporte ao Governo venezuelano de NIcolás Maduro.

Isto, porque Trump entende que é esta trading com sede na Suíça que está a permitir a Maduro vender petróleo venezuelano apesar das sanções impostas por Washington, o que deverá levar a que Caracas deixe de colocar milhares de barris de crude diariamente em refinarias da Índia e da China.

E se esse corte no fornecimento for efectivado nos próximos dias, a oferta de petróleo vai diminuir nos mercados, dando novo balão de oxigénio à matéria-prima, o que será uma boa nova para as economias mais dependentes das exportações de ramas, como é o caso da angolana, exceptuando a própria economia venezuelana.

E o efeito positivo vem ainda da possibilidade admitida pela OPEP+ para efectuar um novo corte na produção como forma de reequilibrar os mercados, estando em cima da mesa, provavelmente ainda este mês, uma extensão do programa de cortes para lá de Junho e um acrescento de 600 mil barris dia ao que já está a ser encurtado na oferta, que é de 1,7 milhões de barris por dia, sem contar com a redução fora dos acordos de 400 mil barris/dia pela Arábia Saudita.

Esta movimentação do cartel petrolífero foi iniciada para precaver os efeitos negativos da epidemia de coronavírus sobre a procura de petróleo mundial.