Este resultado, divulgado em Nova Iorque, é claramente positivo para Angola, que melhora as perspectivas futuras, indicando a Fitch, que é uma das três maiores agências de "rating" do mundo, a possibilidade de alterar o actual nível "B" para uma escala mais próximo do investimento, que passa a ser a partir da categoria BBB-.

B-, B, B+ são as categorias da FITCH que formam o grupo especulativo, ou "lixo", sendo a nota mais baixa do grupo de investimento BBB-, considerada juntamente com BBB, BBB+ a qualidade média de investimento, estando, portanto, Angola a dois patamares, de B para B+, de chegar ao grupo que indica ou aconselha o investimento, dando maiores garantias aos investidores internacionais e aos mercados de que a economia nacional garante retornos com um nível de segurança não negligenciável.

A Fitch justifica esta evolução com dois factores essenciais: a subida consistente do petróleo nos mercados internacionais, importante porque a matéria-prima é ainda responsável por mais de 90 por cento das exportações nacionais, e, provavelmente o factor mais relevante, o recente pedido do Governo ao FMI que o apoie na aplicação do seu programa de recuperação da economia, que, embora sem assistência financeira, contempla um elevado grau de compromisso na supervisão do denominado Programa de Estabilização Macroeconómica (PEM).

A agência de rating com sede em Nova Iorque aponta ainda, no relatório onde sustenta a decisão sobre Angola, uma melhoria no risco da dívida externa no longo termo, sublinhando as acentuadas melhorias na gestão do regime cambial, depois da introdução das medidas de desvalorização controlada pela faixa de flutuação do Kwanza face ao euro e ao dólar dos EUA, introduzida no início do ano e que já produziu uma quebra de 32 por cento da moeda nacional face ao euro, tal como os organismos internacionais, como o FMI, há muito preconizavam.

Mas a FItch sublinha também a coragem demonstrada pelo Executivo de João Lourenço a quem atribui a responsabilidade de ter enveredado por uma "agenda económica ambiciosa" no que toca a reformas estruturais, com relevantes ajustamentos monetários e fiscais.

A chegada do FMI, através de uma ferramenta relativamente nova, o Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI), que, mesmo não sendo acompanhado de assistência financeira, carrega uma pesada responsabilidade para o Executivo angolano porque se sujeita à fiscalização periódica do Fundo para a aplicação das suas próprias medidas.

Sem possibilidade de cortes nas tranches financeiras, como sucede com outros programas, o PCI tem igualmente um enorme peso porque a punição para os governos incumpridores é a exposição pública e a denúncia internacional, o que levaria a um perigoso descrédito do país, com consequências provavelmente mais danosas que a interrupção de tranches, como prevêem os programas do FMI que envolvem assistência financeira.

Com o petróleo bem acima dos 70 USD por barril, tendo chegado mesmo aos 75 nos últimos dias, Angola ganha um substancial lastro para gerir as suas contas internas e a dívida externa, o que impeliu a Fitch a alargar as cordas em torno do país, até porque essa folga petrolífera deverá agora, com o controlo suplementar do FMI, permitir uma mais acentuada recuperação económica.

SE o crude é visto como um bem nas actuais circunstâncias, a agência de "rating" norte-americana não deixa de colocar o dedo na ferida quando aponta como factor negativo a continuada dependência de Angola face ao petróleo, com atrasos substanciais na diversificação da economia.

A elevada carga da dívida pública, que consome cerca de 52 por cento do OGE e a contínua redução das Reservas Internacionais Líquidas (RIL) - apesar destas terem registado uma ligeira subida de 2 por cento em Março, para 13,07 mil milhões de dólares - são dados apontados como preocupantes e que contribuem decisivamente para que a Fitch tenha mantido Angola na categoria de "lixo", mesmo que não seja de somenos a passagem de perspectiva negativa para estável neste patamar.