O Tribunal de Segunda Instância não só confirmou, ontem, a pena de Lula da Silva, que tinha "apanhado" nove anos de cadeia pelo crime de corrupção no chamado caso "Triplex", onde, alegadamente o ex-Presidente brasileiro recebeu de empresários um apartamento de luxo a troco de favores, como viu o colectivo de três juízes passar a pena para 12 anos, deixando o "pai" do milagre económico do gigante sul-americano quando, durante os 10 anos da sua presidência, retirou mais de 20 milhões de pessoas da pobreza, à beira de ver o caminho barrado à candidatura.

Para que Lula possa voltar a ser candidato em Outubro resta-lhe apenas uma brecha legal que é o pedido da "suspensão na inelegibilidade" que é caucionada ou não pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Supremo Tribunal de Justiça, o que, a ser concedida, resultaria no caminho aberto à eleição, tendo em conta que Lula é o nome que as sondagens no país afirmam estar melhor posicionado para ganhar as presidenciais.

Triplex, o buraco onde os "inimigos" meteram Lula

O denominado caso "Triplex" é uma sequela da operação "Lava Jato", o escândalo de corrupção que há vários anos varre a política e o empresariado brasileiro de alto a baixo, consiste num processo judicial aberto pelo famoso juiz Sérgio Moro, que o Partido Trabalhista (PT) de Lula diz estar ao serviço dos interesses de Michel Temer, actual Chefe de Estado, para o retirar da linha de partida presidencial.

Neste processo, Lula da Silva, a figura de cartaz da esquerda brasileira durante as últimas décadas, é acusado de ter recebido um apartamento de luxo, embora não exista nenhum documento que prove ser o proprietário, a troco de favores políticos, mas foi condenado a nove anos e meio de cadeia, em Julho do ano passado, pelo juiz Sérgio Moro, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro,

No entanto, este processo surge para alguns analistas como sendo uma aberração quando comparado com os flagrantes em que o actual Presidente Temer foi gravado por conhecidos empresários do sector das carnes, os irmãos Baptista, profundamente envolvidos no escândalo "Lava Jato", a anuir num caso de pagamento de suborno para garantir o silêncio do antigo presidente da câmara dos deputados, que está preso por corrupção, Eduardo Cunha.

Mas, apesar de ter todos os condimentos para parecer e ser um esquema criado para afastar Lula da corrida presidencial, como o demonstra o facto de, entre todos os processos com génese na "Lava Jato", como lembra alguma imprensa brasileira hoje, ter sido o mais controverso e débil em sustentação legal, provavelmente o velho sindicalista e metalúrgico não vai mesmo poder concorrer, deixando, nesse caso, caminho aberto a Temer.

PT não desiste do seu "artista"

Tudo indica que nem Lula nem o seu PT vão desistir da corrida presidencial de Outubro até que a mais ínfima brecha na estrutura jurídica brasileira esteja fechada e, para já, permanece em aberto o recurso de "suspensão de inelegibilidade" nas instâncias superiores, que pode garantir o tempo suficiente para a sua eleição e, concomitantemente, a suspensão da acusação assim que tiverem lugar as formalidades iniciais da tomada de posse, podendo Lula cumprir sem temor a Temer o seu mandato.

Um dos sinais de que o velho Lula está na corrida foi a escolha simbólica do lugar onde assistiu pela TV à leitura das três justificações do colectivo de juízes de 2ª Instância: a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, na cidade de São Bernardo do Campo, onde deu os primeiros passos na política, há quase quatro décadas.

Nas suas declarações durante a leitura das sentenças, Lula disse estar tranquilo por ter a consciência clara de não ter cometido nenhum crime, reafirmando a sua decisão, "agora mais que nunca" de ser candidato contra a injustiça e contra a "provocação" que molda esta condenação.

a ex-Presidente Dilma Rousseff, que lhe sucedeu no cargo, veio de imediato apoiar as suas palavras e, nas redes sociais, disse estar empenhada na conquista do direto de Lula em ser candidato contra as injustiças "e contra os golpes", no país inteiro.

"Vamos recorrer, não vamos aceitar este desfecho", garantiu também o advogado do ex-Presidente brasileiro Roberto Batochio, que lembrou que Lula da Silva não tem neste embate o mais importante da sua vida, esse aconteceu durante a luta contra a ditadura militar e a conquista da democracia que o Brasil tem hoje.

"Condenação sem prova é condenação autoritária", disse o causídico para sublinhar que a luta contra o autoritarismo continua, não contra militares vestidos de verde mas contra juízes vestidos de negro, sublinhando, como é do conhecimento geral que em momento algum foi mostrada em tribunal qualquer prova de que o tal apartamento é propriedade de Lula.

E a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já veio a terreiro também garantir que o partido vai apresentar, no dia 15 de Agosto, data inicial para o efeito, Lula da Silva como seu candidato as presidenciais de Outubro.