Aos 77 anos, com uma experiência de décadas no Congresso, onde esteve entre 1973 a 2009, e como vice-presidente entre 2009 e 2017, Joe Biden teve um começo tremido, com derrotas sucessivas para o senador do Vermont, Bernie Sanders, nas eleições primárias do Partido Democrata. Mas conseguiu agigantar-se e tomar a dianteira graças à vitória esmagadora na denominada super terça-feira, quando 17 estados, incluindo os gigantes Califórnia e Texas, foram a votos no mesmo dia, a 03 de Março.

Apesar de Sanders se manter na corrida até ao derradeiro minuto - como de resto fez em 2016 com Hillary Clinton, que perdeu depois com Trump - face aos resultados já conhecidos, o destino parece estar traçado para este influente senador que se posiciona na ala mais à esquerda do Partido Democrata. Sanders acabará decerto por endereçar o seu apoio a Biden, um moderado e, tal como o actual presidente dos EUA, visto como um "amigo" dos poderosos de Wall Street.

Isto, porque só com um milagre eleitoral o "tio" Bernie, de 78 anos, poderá reunir os delegados suficientes para vir ainda a ser o indicado na Convenção do Partido Democrata, que deve anteceder a campanha eleitoral para as eleições presidenciais de Novembro, onde o objectivo é tirar Donald Trump da Casa Branca. Embora seja raro nos EUA, não é inédito um presidente perder nas urnas a sua reeleição: nos últimos 50 anos aconteceu o mesmo com Gerald Ford, Jimmy Carter e George Bush (pai).

Entre Trump e Biden, Sanders não terá com certeza quaisquer dúvidas sobre quem vai apoiar, mesmo que sem grande vigor, optando pelo antigo vice de Barack Obama. E, visto que a próxima batalha das primárias dos democratas é só daqui a três semanas, o velho senador do Vermont já fez saber, através da sua equipa, que vai analisar a situação com os seus apoiantes e depois decidir se vale ou não a pena apostar nesta última parte da corrida para um derradeiro esforço.

"Apesar de termos conseguido ganhar a campanha das ideias, estamos a perder na campanha da elegibilidade para Joe Biden", escreveu o seu staff num email dirigido aos apoiantes e divulgado pelas agências. Uma mensagem que pode ser o prenúncio da desistência, tal como sucedeu por esta altura em 2016, quando deixou o caminho livre para Hillary Clinton na mesma altura da disputa interna.

Para já, porém, Bernie Sanders aguarda pelas próximas votações, no Hawai e no Alasca, estados que ganhou em 2016. E apesar de a matemática lhe ser desfavorável, nem Sanders desiste, nem Biden toma a iniciativa de anunciar a vitória.

Em Novembro, a maior potência económica e militar do planeta vai decidir se mantém o 45º presidente ou se elege o 46º. O inquilino do nº 1600 da Avenida da Pensilvânia, em Washington, pode manter-se, se Biden sair derrotado frente a Trump. Na história dos Estados Unidos apenas dez dos 44 presidentes que o antecederam não conseguiram a reeleição.

Mas os analistas mais próximos da política norte-americana estão a notar que estes derradeiros meses da presidência de Donald Trump podem ficar marcados pelo que suceder no país quanto à pandemia de Covid-19. Trump tem sido muito criticado por ter ignorado a gravidade da situação e respondido demasiado tarde, deixando o vírus à solta e sem combate por demasiado tempo.

Por essa a razão, afirma-se ainda nas páginas de opinião dos media norte-americanos, a sua administração está numa corrida desenfreada para conseguir garantir uma vacina em tempo útil, o que o levou a tentar adquirir os direitos exclusivos de uma vacina que está a ser desenvolvida por um laboratório alemão. A informação foi confirmada pelo governo de Berlim, apesar de desmentida pelo laboratório.

Se Trump, um reconhecido populista e nacionalista, não for derrotado pelos erros cometidos face à ameaça pandémica da Covid-19, o pouco carismático Biden poderá contar sempre com o apoio do seu antigo "chefe" Obama e da antiga secretária de Estado Hillary Clinton. Mas a palavra de Sanders, um progressista carismático, mas apontado por alguns como demasiado "socialista" para a sociedade norte-americana, poderá ser ainda mais importante. Para o seu universo ideológico, derrotar o actual presidente não é apenas um objectivo, é a sua missão.