No passado dia 12 de Setembro, o PR João Lourenço visitou os estúdios centrais da Rádio Nacional de Angola (RNA) e horas depois, na página da Presidência da República, era divulgada uma nota de imprensa com um título em letras bastante preocupante: "Alto nível de degradação do edifício fez soar o alarme: Chefe de Estado ordena intervenção urgente."

Dizia que João Lourenço alertou para a necessidade de reabilitação imediata do edifício e para a melhoria das condições de vida dos profissionais da RNA. Estranho nisto tudo é ver a Presidência da República fazer soar os alarmes por causa do estado de degradação do edifício RNA. Em Julho deste ano, os deputados da 7.ª Comissão da Assembleia Nacional visitaram instalações da RNA, em várias províncias, e alertaram para o estado de degradação das suas infraestruturas, isto foi notícia na edição online do NJ com o título: "Instalações da RNA em várias províncias "em estado avançado de degradação" - Deputados defendem mudanças urgentes." Será que João Lourenço não leu esta matéria do NJ? Será que não teve acesso ao relatório dos deputados? Será que o Chefe do Estado angolano não recebe ou não lê os relatórios dos serviços de inteligência e segurança sobre a matéria? Não é novidade para ninguém que os seus "operativos" andam pelas empresas públicas de comunicação social e certamente não andam por lá a passear, têm de fazer relatórios e informá-lo.

É que, para perceberem bem a coisa, é importante que vos diga, que de acordo com uma reportagem da própria RNA, ficamos a saber que esta visita de João Lourenço à rádio foi porque os jornalistas Afonso Quintas e Carla Castro sugeriram a João Lourenço que visitasse a instituição. As sugestões de visita foram feitas durante as cerimónias de condecoração. Eles estiveram naquele momento com João Lourenço e sugeriram que fosse visitar a RNA. É claro que o PR não podia ficar indiferente ao pedido de duas figuras de peso da estação de rádio. O ministro da Comunicação Social, Mário Oliveira foi apanhado de surpresa e percebeu-se que estava completamente perdido durante a visita. É que Mário Oliveira mal conhece os cantos à casa e nem percebeu que as honras da casa eram para o PCA da RNA, o jornalista Pedro Neto. Tentou forçar o guião e ficou mal na fotografia. Dizem que em determinado momento, Mário Oliveira terá desabafado que Pedro Neto lhe estava a "queimar o filme", tudo porque o verdadeiro dono da casa percebeu que aquele era o momento de falar com verdade ao Chefe de Estado, João Lourenço.

"Não gostei, não gostei, não gostei do que vi. Como é que a RNA está naquele estado?" Terá desabafado João Lourenço já durante a reunião que aconteceu, na tarde do mesmo dia, no Palácio da Cidade Alta. Tanto é que o comunicado na página da Presidência da República foi claro em citar que João Lourenço "não gostou do que viu".

Segundo as nossas fontes, nesta reunião, terão estado João Lourenço, o ministro Mário Oliveira , o PCA Pedro Neto, o governador de Luanda, Luís Nunes, a ministra das Finanças, Vera Daves, o secretário para comunicação do PR, Luís Fernando e o "omnipresente" director de gabinete de João Lourenço, Edeltrudes Costa. João Lourenço não gostou do que viu apenas nos estúdios centrais da RNA em Luanda, mas se for visitar outras instalações da instituição pelo País a decepção será maior. Tudo numa altura em que os profissionais de comunicação social do sector público estão dispostos a avançar com uma greve sem precedentes. Também é importante fazer perceber ao Palácio da Cidade Alta que não é apenas o estado de degradação das infraestruturas que deviam fazer soar os alarmes. A degradação da condição humana, a aposta e a valorização do capital humano é um dos grandes desafios da RNA e onde se deve apostar com urgência. João Lourenço também foi informado, durante a visita, de que 40% da população em Angola não tem acesso ao sinal da RNA. Como é possível? E os investimentos feitos no sector? A propaganda dos satélites e a extensão do seu sinal? É tudo cosmética? Como foi cosmética, o ministro Mário Oliveira estar em Benguela a distribuir computadores, microfones, e outros meios, pelos órgãos locais, quando, pelo País, os jornalistas estavam a reivindicar melhores condições.

Foi patético ver o ministro após a visita do PR à RNA a tentar ignorar a pergunta de um jornalista de um órgão privado, depois, quando questionado pelo jornalista Adão Tiago da TV Zimbo, o ministro disse: "Não percebi a sua pergunta? Qual é o alcance da sua pergunta?" Perante tudo isto, chegámos à conclusão de que ele é que não percebe o que anda a fazer e nem sabe qual é o alcance do seu cargo. Um Governo com um ministro da Comunicação que não percebe de comunicação e que não quer saber da classe, com uma ministra da Educação sem educação e com uma ministra do Ambiente feita uma "mixeira", todos eles condecorados pelo próprio Presidente João Lourenço, aos nossos olhos, é caso para recorrer à pergunta do meu amigo: o Presidente João Lourenço é inocente, conivente ou incompetente?

A resposta podem dar-ma em Agosto de 2027.