Quando os cidadãos descobrem que desistiram de ter esperança na própria possibilidade de ter esperança. Que a esperança, que devia ser a última a morrer, passou agora a ser a primeira a matar. Criou-se um ambiente em que há pouco espaço para emoções ou sentimentos positivos como o amor, a empatia, a solidariedade e o companheirismo. Gerou-se uma verdadeira crise moral e espiritual que inclui a perda de valores, entre eles a urbanidade, o sentido de convivência, o respeito pela dignidade da pessoa humana e pelo valor da vida.
Por perda de valores, por necessidade, ganância, arrogância, soberba, incompetência, falta de patriotismo, ética, amor e humanismo, o país vive uma situação de incontrolável agonia que vai apagando o passado, condenando o presente e comprometendo o futuro. É assim que as coisas funcionam aqui, sempre que julgamos conhecer a resposta a uma pergunta, descobrimos que a pergunta não faz sentido. Será que ainda faz sentido questionar? Não é melhor remetermo-nos ao estado de inacção humana? Ou, se calhar, optar pela fuga daqui pra fora? As realidades são duras e os números não mentem. Em oito anos da governação de João Lourenço, o número de angolanos em Portugal é cinco vezes maior. Quando o Chefe de Estado angolano fez a primeira visita oficial a Portugal, em Novembro de 2018 (eu estive presente e acompanhei), a nossa comunidade rondava os 18 mil cidadãos e hoje são 92 mil. Já somos a terceira maior comunidade de imigrantes em Portugal, só somos superados pelos brasileiros e pelos indianos. Os nossos cidadãos estão a partir e é claro que fazem muita falta.
O PR João Lourenço, afinal, não vai participar no Congresso Nacional da Reconciliação, mesmo depois de a Conferência Episcopal de Angola e São-Tomé (CEAST) ter mudado a data para a primeira semana de Novembro, ajustada à agenda do Chefe de Estado. No dia 1 de Outubro, o presidente da CEAST, D. José Imbamba, anunciou no fim de uma audiência com o PR na Cidade Alta que a data do congresso tinha sido alterada para a primeira semana de Novembro, ajustada à disponibilidade de João Lourenço. Como é que ele agora lhe dá esta "mbaia"? A Presidência da República precisou de três comunicados para comunicar em condições: um primeiro com a primeira data do fim deste mês, um segundo sem datas e um último já com as datas de Novembro. O reconciliador da semana passada, no discurso do Estado da Nação, esta semana já tem uma agenda "irreconciliável" com o congresso da reconciliação. João Lourenço saiu das cordas na semana passada e esta semana já se pôs de novo em posição de ser nocauteado pelas críticas e pela pressão social. É que além de certas presenças, o local da realização do evento também passou a ser inconveniente para ele. Ele não ia querer dar "vitória" num "garden" de um dos seus declarados adversários políticos, pois aqui o único que deve ter "peito alto" é só mesmo ele. Vamos ver como é que a CEAST reage, neste que também já é o país das últimas coisas para muitos de nós.