Nesta busca constante de instantes que se torna um verdadeiro aprendizado, uma verdadeira lição na escola da vida e em que aprender se torna um acto revelador da nossa ignorância. Com diálogos, começam pelo empregado do bar e o porteiro do hotel as conversas dos engraxadores, a negociação com as quitandeiras que vendem as gajajas pelas ruas de Benguela. Com essas últimas, há sempre conversas interessantes e em que aproveito cada instante para registar o que me falam das "malambas" e dureza da vida, das múltiplas propriedades das gajajas e outros produtos que comercializam. Caçar instantes é como quem quer caçar borboletas, neste processo, "salto" para viver outros instantes com os jovens das kupapatas. Estes são atentos e reconhecem facilmente o escriba errante e que, por lá, anda a caçar instantes. Estes jovens têm uma grande capacidade de inverter os papéis e passam a fazer perguntas ao jornalista que há dias anda em amena cavaqueira tudo e todos. Por instantes, o tal caçador de instantes é "bombardeado" de perguntas, e cada resposta sua é acompanhada de silêncios prolongados e olhares fixos e bem atentos. As perguntas são sempre sobre um passado que já não existe, um presente que resiste e um futuro que parece pouco risonho e triste. A Esperança Lima Coelho Vilhena "Tia Panchita" e a Bebé Matos, duas amigas que Benguela me deu e que já partiram, mas que tenho bem presente cada instante que foi "caçado" nas conversas com elas. Os longos instantes das conversas com o Joaquim Grilo na sua tabacaria no centro da cidade. É transformar cada instante em lição de vida. Benguela é uma cidade boa para todo e qualquer caçador de instantes. Ele veio de Benguela e nesta terça-feira, 16 de Abril, venceu o Grande Prémio Catoca de Jornalismo, em cerimónia ocorrida no Centro de Convenções de Talatona ( CCTA). Falo do amigo, colega e correspondente do Novo Jornal em Benguela, o João Marcos Pontes. Gosto da sua humildade, respeito, dedicação, companheirismo e profissionalismo. Há pessoas que merecem o sucesso que têm, e o João Marcos é uma delas. Naquela que foi a 2.ª edição do Prémio Catoca de Jornalismo, tive a oportunidade de "caçar" muitos instantes interessantes.

O ambiente, o convívio entre os jornalistas. A forma franca e aberta como se relacionam, a satisfação, porque a classe jornalística está por bons instantes unida e faz abordagens sobre o presente e o futuro das suas carreiras. Uma profissão ameaçada e ameaçadora, uma profissão difícil e ingrata. Mas, neste mar de incertezas, dificuldades e inseguranças, surgem iniciativas como este prémio de Jornalismo promovido pelo Projecto Catoca. É importante que iniciativas que visam valorizar o mérito, a competência, o empenho, o esforço e a dedicação tenham o nosso reconhecimento, carinho e respeito. É claro o nosso foco em jornalismo trabalhar para os prémios. Não. O nosso maior prémio é o carinho e a confiança que recebemos dos leitores, assinantes e anunciantes. O maior prémio é o esforço, o espírito de equipa, de zelo e dedicação dos colegas. Mas também não é menos importante o trabalho que empresas privadas fazem em prol do reconhecimento do trabalho dos jornalistas. É um verdadeiro incentivo para quem diariamente faz desta nobre e dificílima arte de comunicar a sua ferramenta de trabalho, para quem faz do interesse público a sua prioridade.

Catoca percebeu que precisávamos destes instantes, deste reconhecimento, deste incentivo, numa altura em que existe a necessidade de o Jornalismo se afirmar. De estar preparado para combater a desinformação e manipulação que por cá grassa e afastar um certo " jornalixo", que se movimenta sem ética nem rigor. Precisamos de pessoas e instituições que percebam que o Jornalismo livre, isento, plural e responsável é um importante barómetro para se aferir a qualidade da nossa jovem democracia. Precisamos destes instantes em que o Jornalismo é grande vencedor e em que os jornalistas se unem em torno da defesa e valorização da classe. São instantes que ficam e marcam. Somos caçadores de instantes e por alguns instantes na vida precisamos destes instantes.n