Ou, à imagem do aluno, que tendo estado no quadro de honra nos dois primeiros semestres, nos anos subsequentes viu descer drasticamente as notas, defraudando a expectativa entre os professores e lançando a frustração entre os pais em casa.

Ao entrar para a derradeira etapa desta primeira temporada eleitoral, se nada está perdido, o mundo que gira à sua volta há muito que deixou de ser um mundo cor de rosa e começa a não deixar vislumbrar a luz ao fundo do túnel...

Tendo plena noção de que depois de ter passado uma vez, o comboio não voltará a passar, é neste complexo contexto de adversidades político-biológicas que o Presidente vai agora enfrentar a fase mais difícil do seu mandato.

Um contexto que começou por ser de júbilo. O júbilo deu lugar a reservas. As reservas sucumbiram diante de inquietações. As inquietações transformaram-se em frustrações. E as frustrações estão agora a acelerar a instalação de um perigoso sentimento de desilusão. Mas, porque é que as novas adversidades são de natureza político-biológica?

Em primeiro lugar, porque este Presidente está submetido a uma lógica temporal limitada, que jamais permitirá que inquilino algum do Palácio volte a ocupar os seus aposentos durante os trinta e oito anos em que lá esteve José Eduardo dos Santos.

Em segundo lugar, porque quem lá está hoje, não deve perder de vista que está lá porque os governados já não suportavam a permanência no Palácio do seu antecessor.

Em terceiro lugar, porque a eficácia da sua liderança depende, em grande medida, da sua personalidade, da dinâmica pessoal imprimida à governação nos próximos tempos e da sua visão política de longo prazo.

Em quarto lugar, porque serão a análise e as suas escolhas pessoais que determinarão a indicação dos melhores, mais competentes e leais colaboradores ou do seu contrário.

Em quinto lugar, porque está protegido por uma couraça constitucional que, para o bem, mas também para o mal, faz recair sobre os seus ombros toda a responsabilidade da governação.

E em sexto lugar, porque ninguém pode vir de fora impor-lhe vontade política para vencer com naturalidade os obstáculos que se lhe colocarão de agora em diante com cada vez maior grau de exigência.

Mas, se ninguém pode vir de fora para lhe devolver a aura que, no passado, conquistou junto do eleitorado, nada garante que, de dentro, num futuro próximo, o mesmo eleitorado que o idolatrou, não venha a retirar-lhe o tapete numa altura em que, sem dinheiro e "proibido" pelo FMI de contrair novos empréstimos, até ao final do mandato só dispõe de mais um exercício orçamental completo, já que 2022 - ano eleitoral - será apenas para cumprir calendário...

Nestas circunstâncias, o seu futuro só depende da argúcia e da habilidade que envolver na forma como há de gerir os próximos dezoito meses e da sua capacidade para se impor como o Presidente que todos os angolanos gostariam de ter no Palácio.

E que Presidente é esse?

O Presidente que, aplicando a dose certa em medidas certas, conseguiu, no início do seu mandato, galvanizar os governados e levá-los a acreditar no nascimento de um novo país.

O Presidente que, no princípio da sua governação, não teve contemplações em afastar do seu caminho quem, no seu gabinete, pisasse o risco ou quem, no Executivo, pusesse em causa a honorabilidade dos compromissos do Estado ou se posicionasse com uma postural moral e ética desabonatória para a imagem do país.

O Presidente, que tendo cometido alguns erros, não teve preconceito, nalguns casos, em dar a mão à palmatória, evidenciando um espírito de humildade que contrasta com a arrogância e o complexo de superioridade encarnados por subordinados e por agentes políticos no poder e na oposição, que se acham acima da lei e imunes à crítica.

O Presidente que deu garantias de que o poder do dinheiro não serviria de manto para a cobertura da impunidade da seita de corruptos que insiste em sequestrar os recursos públicos.

O Presidente que inspirou confiança na opinião pública ao ter dado mostras de que estaria seriamente apostado numa política de proximidade junto dos cidadãos.

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