Julgava que o sentimento de solidariedade apregoado pelas autoridades para acudir à pandemia da Covid-19 fosse assumido, em primeiro lugar, pelos mais abastados e que não impusesse, àqueles que nada têm, os maiores sacrifícios...

Mas não. Enganei-me. Não é isso que está a acontecer. Não é isso a que estamos a assistir. Mas é isso que está a chocar a sociedade. É isso que está a provocar a repulsa dos cidadãos...

É isso que, à volta deste ambiente pandémico, não nos permite perder mais tempo, mais energia, mais papel e, o que é agora proibido, perder mais fôlego a despejar gotículas de saliva para o ar!

E não podemos perder mais tempo porque o que está a acontecer, num momento que requer contenção e atitude moral, configura a tentativa de restauração, por uma das suas múltiplas facetas, do "mundo ideal do deputado", à semelhança e imagem do "mundo ideal do oligarca" magistralmente descrito pelo investigador português Ricardo Soares de Oliveira na sua obra "Angola, Magnífica e Miserável".

Esse mundo miserável, exposto sem espinhas à vista de toda a gente, acaba agora de ser destapado na Assembleia Nacional. E não falo de uma Casa das Leis que tem hoje mais meios materiais do que meios cerebrais.

Não falo de uma Casa das Leis povoada por uma imensidão de personalidades tão "vips" quanto, na maioria dos casos, é francamente sofrível o seu desempenho...

Não falo de um Parlamento com cada vez mais instrução académica, mas com menos massa crítica, menos lastro intelectual, menos fulgor verbal, menos sentido de humor e sem a independência de opinião livre, aberta e frontal de figuras como Mendes de Carvalho, M"Fulupinga Landu Víctor, Mac Mahon, Mário de Almeida "Kassessa", Jaka Jamba, Carlos Simeão "Manolo" e outros.

Não falo de deputados que, "emplumados", como escreveu o José Kaliengue, entram onde o povo fica de fora, e, com medo da própria sombra, não conseguem ir às compras sozinhos nem circular na via pública senão acorrentados aos guarda-costas...

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)