Especialistas na gestão de calamidades, parece que estamos condenados a viver resignados com esta pessoana conclusão: "estamos sempre a começar". Mas, o poeta adverte também que "podemos ser interrompidos antes de terminar".

E alerta ainda que, às vezes, em vez de prosseguir, é preferível "fazer da interrupção um caminho novo, da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, do sonho, uma ponte e da procura um encontro".

Mas, aceitar ser interrompido para evitar o prolongamento das calamidades não tem sido a nossa sina. Arrepiar caminho para evitar as calamidades, não é connosco.

Não é connosco porque desde que derrubamos as paredes dos nossos muros, parece que nos esquecemos que, por debaixo desses muros, têm avançado, de forma arrasadora, as mais diversas calamidades das nossas vidas.

Bom seria que nunca tivéssemos erguido esses muros. Bom seria que, uma vez levantados os alicerces, ao menos tivéssemos interrompido a sua construção. Mas não. Somos viciados em calamidades. E agora estamos diante de mais uma.

Gostaria que fosse a última das nossas calamidades. Gostaria, por isso, de "fazer do sonho uma ponte", mas, ninguém garante nada.

Ninguém garante também agora que, ao sair em Diário da República, esta calamidade, venha a ser a última a ser interrompida. Ninguém garante.

Não interrompemos em Luanda, em Maio de 1977, a nossa primeira grande calamidade política.

Não interrompemos na Jamba, em Setembro de 1983, a nossa segunda calamidade política.

De Outubro de 1992 a Abril de 2002, voltamos a não conseguir interromper a mais trágica das nossas calamidades militares. E em 2017, abertos os cofres, confrontamo-nos com a exposição da maior calamidade financeira da nossa história.

Até hoje, continuamos a não querer interromper a marcha, como se fossemos um povo de calamidades...

Talvez até sejamos e, por isso, já ninguém garante nada. Nascemos atacados pelo vírus da calamidade revolucionária. Crescemos de mãos dadas com o vírus da calamidade militar. Estamos aqui agora a definhar ante o vírus de uma calamidade económica.

Há quarenta e cinco anos que não damos conta que as doses cavalares de vacinas que andamos a consumir para neutralizar esse vírus, apresentam-se geralmente fora do prazo de validade...

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