Apesar de estar mais do que habituada aos humores do mercado e aos sempre inconstantes altos e baixos dos seus ciclos económicos, a indústria do petróleo e gás provavelmente entre, em 2021, com um enorme ponto de interrogação no seu horizonte. A retracção causada pela Covid-19 foi diferente de tudo e colocou em risco a sobrevivência de milhares de empresas, em Angola e no mundo, em geral.

Para piorar o cenário da indústria petrolífera, a revolução ambiental que a humanidade vive, com as Energias Renováveis a estarem de uma vez por todas na agenda económica mundial, acarreta, inevitavelmente, um declínio da procura do petróleo e do gás a longo-prazo, como aliás já estava a acontecer no período pré-pandemia.

Todavia, acreditamos que, pelo menos no primeiro semestre, a onda de entusiasmo mundial signifique o aumento do preço do barril de petróleo nos principais mercados, uma opinião partilhada, aliás, por vários especialistas e entidades, como os bancos de investimento Goldman Sachs e Citi, por exemplo.

Segundo diversas previsões, o ano 2020 terminou com uma redução da procura de cerca de 8%, um saldo bastante positivo, tendo em conta as consequências da pandemia (não podemos ignorar que a procura global pelo petróleo caiu 25% em Abril...). Com a distribuição da vacina, muito provavelmente venhamos a ter um crescimento em 2021 dessa mesma procura em comparação a este ano, embora dificilmente a demanda seja superior aos níveis pré-Covid-19, confirmando, deste modo, as constantes quedas verificadas nas últimas décadas.

Espera-se que o preço do barril de petróleo Brent alcance uma média de 46,59 dólares por barril em 2021. Mais do que a média de 2020 (40,61 dólares), mas 28% inferior ao preço médio de 2019 (64,34 dólares).

Não é por acaso que, nos Estados Unidos da América, ocorreram pelo menos 14% de demissões de trabalhadores fixos na indústria do petróleo e gás, em 2020. E, segundo vários estudos, 70% dos trabalhadores dispensados durante a pandemia podem não regressar ao mercado até ao fim de 2021. As demissões em massa comprovam que o sector está a viver um período crítico da sua história e demonstram que a reputação que a indústria petrolífera mantinha, de emprego para a vida, está com os dias contados.

A já denominada "grande compressão" da indústria do petróleo e gás, ou seja, a constante desaceleração verificada, principalmente, nos últimos 10 anos, é definitivamente diferente de qualquer outra, o que coloca em causa toda a cadeia de valor do sector nas décadas seguintes, não só em 2021. Este será, definitivamente, um ano de resistência para muitos, um ano fulcral para determinar a direcção da indústria.

Na realidade, não há, neste momento, um futuro para o sector, mas apenas o agora. Os sinais estão à vista de todos, já que a indústria já enfrentava ventos contrários antes mesmo do início da pandemia. O que fez a Covid-19 foi acelerar a transformação digital de que o Mercado do Petróleo e Gás necessitava, como aconteceu, aliás, em todas as áreas económicas. O que poderia ter levado anos para acontecer acabou por acontecer nalguns meses.

O sector do petróleo e gás, em 2021, tem de se direccionar para o futuro das Energias Renováveis e a tecnologia, um caminho complexo e que exigirá escolhas ousadas por parte das empresas (muitas não conseguirão...). Este ano é um dos momentos cruciais para a indústria, devido a decisões que terão de ser tomadas em relação à estratégia do negócio por parte dos players do mercado. O compromisso com uma energia mais limpa, as alterações nos padrões da procura e da composição da oferta, o investimento ambiental (socialmente responsável e focado), a captação de novos quadros enquadrados com as exigências do mundo actual e a consolidação de projectos de baixo custo mas rentáveis são apenas algumas das saídas que vemos como caminhos a tomar em 2021.

As escolhas que as empresas do mercado do petróleo e gás tomarem este ano, assim como as apostas que pretendem priorizar a nível interno, decidirão o caminho a seguir e a sua própria existência. Não só em 2021, mas também na próxima década!

*Economista e especialista em Energia e Meio Ambientel