"Ninguém escolhe a família onde nasce, mas toda a gente tem o Direito Humano à dignidade, à sua individualidade e à privacidade", disse Coreón Du num documento enviado à revista The Advocate, uma publicação do universo LGBT, onde o meio-irmão de Isabel tem sido noticiado amiúde depois de ter assumido publicamente a sua homossexualidade, explicando que nunca teve o direito a essa "privacidade" desde que nasceu por causa da exposição pública e política da sua família.

"Nunca tive esse direito desde que nasci por causa da minha ligação genética a pessoas que escolheram carreiras na política ou tinham outras actividades de grande exposição", como as suas duas irmãs, Tchizé e Isabel dos Santos e ainda José Filomeno dos Santos, anterior presidente do Fundo Soberano de Angola, que, tal como Isabel - acaba de ser declarada arguida pela PGR -, é arguido em processos na justiça angolana por suspeita de corrupção, peculato e falsificação de documentos.

Coreón Du acrescenta nestas declarações à The Advocate, que não são meramente casuais, face ao timing em que são feitas, dias depois de a sua meia-irmã Isabel estar no meio do turbilhão mediático e judicial gerado pelas revelações do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) a partir de 715 mil documentos entregues pela Plataforma para a Protecção dos Denunciantes Anónimos em África (PPLAAF), expondo uma constelação de suspeitas que envolvem a construção do seu bilionário império empresarial durante as duas últimas décadas baptizado "Luanda Leaks", embora há quem lhe chame também "Isabel Leaks".

"Orgulhoso como sou da minha identidade, eu nunca escolhi ser um homem gay e negro que acontece ser também geneticamente relacionado com pessoas em determinadas posições", diz Du, como a revista LGBT se lhe refere, em mais uma frase que só pode ser interpretada como mais um impulso para se afastar dos ventos gerados pelo furacão que envolve a mais velha dos seus irmãos.

E depois, escamoteando que foi proprietário de empresas em Angola, como a Semba Comunicações, que, entre outras actividades, geriu o canal 2 da TPA, e que só se tornou possível devido a esses mesmos laços parentescos - Tchizé dos Santos foi sua sócia -, Coreón Du, que, para além de músico, tem uma carreira como designer de moda, já com algum relevo internacional, sublinha que o seu trabalho "esteve sempre sob o olhar público", que nunca ocupou "um lugar oficial em Angola, ou onde quer que fosse", nem sequer pertenceu alguma vez a uma organização política.

Na introdução que faz a estas declarações de José Paulino dos Santos, The Advocate afirma de forma categórica que Isabel dos Santos é conhecida como a mulher mais rica de África e "fez a sua fortuna, com o seu marido - Sindika Dokolo - adquirindo terras, petróleo, diamantes e empresas por bagatelas", recordando, numa pequena síntese, o processo em que está envolvida actualmente, as "Luanda Leaks".

Recorde-se que a sua também meio-irmã, Tchizé dos Santos, que também tem sublinhado nas redes sociais que a família dos Santos não é toda igual, não tem poupado esforços em defender Isabel dos "ataques" em que está submergida.