O que pensam os dirigentes do MPLA que vão estar no VI Congresso Extraordinário que, este Sábado, vai ficar marcado pela mudança de mãos do poder no partido, de José Eduardo dos Santos para João Lourenço? O NJOnline foi ouvir alguns dos "camaradas" com lugar marcado neste conclave histórico do partido que governa Angola desde 1975.

Entre os 2 500 congressistas, Norberto Garcia, que, na qualidade de porta-voz do MPLA, vive de perto estes momentos que antecedem o Congresso, defende que este é o momento ideal para "um refrescamento" do partido, considerando que se aproxima o momento que se apresenta com os requisitos essenciais para "fortalecer o MPLA" e, com isso, o seu papel na sociedade angolana.

"Com a liderança do camarada João Lourenço, teremos um partido cada vez mais forte, unido e preparado para os futuros desafios", disse o porta-voz do MPLA, acrescentado que, o actual presidente do partido, José Eduardo dos Santos, demostrou "boa vontade" para abandonar a vida política.

Deixando, como tem sido regra nestes momentos de transição do poder dentro do MPLA, Norberto Garcia também elogia José Eduardo dos Santos no momento em que este abandona a vida política activa: "Foi muito trabalho feito pelo camarada presidente, José Eduardo dos Santos, os militantes, simpatizantes, membros e amigos agradecem o seu empenho à frente do partido desde 1979".

Esta fase de transição de caras na direcção do partido, embora ainda se desconheça quem vai assumir a vice-presidência do MPLA e dos seus restantes órgãos, Norberto Garcia entende, que, a par das caras, também "muita coisa vai também mudar", porque essa esperada mudança ergue-se como fundamental para um "futuro de unidade e de coesão interna"

"Quem sairá a ganhar é o MPLA, os militantes, simpatizantes e amigos do nosso partido", adicionou.

O primeiro secretário do MPLA, na província do Moxico, Gonçalves Muandumba, disse que o VI Congresso Extraordinário será uma ocasião em que a grande família MPLA ficará forte e unida.

"O partido sairá mais fortificado e unido, neste congresso que vai marca a transição política do partido que felizmente está correr bem", disse.

Já o deputado Tomas Da Silva avançou ao NJOnline que o congresso vai consubstanciar o desfecho da transição política no seio do MPLA, onde o vice-presidente João Lourenço assumirá a presidência.

A transição já não é novidade mas contém a marca da conclusão de um período e do arranque de outro, que, tal como na sociedade angolana desfraldou fortes expectativas quando Lourenço chegou à Presidência da República, agora, dentro do partido, surge semelhante vontade de ver mudanças para os tempos vindouros.

Para já, Tomás da Silva, lembra que o Congresso de Sábado vai apenas mudar o líder, mas, espera, "futuramente poderá haver mudanças em várias estruturas do partido".

Na opinião do economista e comentador político, Lopes Paulo, o VI Congresso Extraordinário acabará com a bicefalia, "o que vai ajudar o presidente João Lourenço fazer as suas reformas dentro do partido".

E o também militante do MPLA com lugar marcado no conclave, enfatiza o facto de, ao contrário de José Eduardo dos Santos, que teve um longo mandato dentro do MPLA, João Lourenço não terá pela frente o mesmo cenário, o que abre caminho a uma disponibilidade maior para introduzir alterações.

Mas há quem aponte a questão da "democracia interna" como um ponto essencial a alterar, como é o caso do militante António Silvano Jamba, que espera que a partir da realização do congresso extraordinário, "haja mais democracia interna no partido".

"Há défice no seio do MPLA em termos da democracia, mas acredito que depois do congresso as coisas vão mudar", sublinha.

O político afirma que o ainda líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, dirigiu o partido desde a morte do primeiro presidente de Angola de forma "séria" e "soube gerir todas as dificuldades que ocorriam, e deixando o partido unido e forte".

Mudança é também o que pede o professor universitário, Lameira Paulo Coxe, nomeadamente no secretariado do Bureau Político "onde permanecem algumas figuras há décadas".

"Uma mudança nesta estrutura superior do MPLA era bem-vinda, porque existem lá figuras que já deram o seu contributo e merecem descansar", opinou.

Para o analista político Esteves André Bimba, o fim da bicefalia vai permitir ao presidente João Lourenço tomar algumas medidas para a remodelação governamental.

"Não conseguiu fazer profundas mudanças por causa da bicefalia. Agora ele tem luz verdade para fazer as suas reformas", frisou.

"João Lourenço vai cumprir o programa do partido, mas haverá novidades que vão permitir dar nova dinâmica à organização política", a partir do momento em que o Presidente da República passa a ser também o líder do MPLA.