Questionado sobre se poderia confirmar uma notícia avançada pela Rádio Nacional de Angola (RNA), segundo a qual as autoridades de Luanda enviaram um protesto diplomático ao Governo português na sequência da intervenção policial, da qual resultaram vários feridos e a detenção de um cidadão angolano, Augusto Santos Silva respondeu que podia confirmar "o contrário".

"Confirmo o contrário, que não houve. Protesto formal apresentado pelas autoridades angolanas junto do Estado português, portanto através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, posso confirmar que não houve, falando como estou a falar, às 13:17, hora de Bruxelas, 12:17 hora de Portugal", declarou o ministro, que falava no final de uma reunião ministerial da UE com a União Africana.

Questionado sobre se não houve sequer uma abordagem informal, Santos Silva apontou que nesta reunião ministerial Angola fez-se representar ao nível do embaixador, "que aliás é o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros" e seu "colega e amigo Georges Chicoti", que teve "o prazer de cumprimentar", mas negou que o assunto tenha sido abordado.

Santos Silva concluiu que se houver um pedido de esclarecimentos, os mesmos serão "evidentemente prestados".

"É natural que qualquer pedido de esclarecimento de autoridades angolanas - da mesma forma que nós fazemos iguais pedidos de esclarecimento quando há cidadãos portugueses que se vêem envolvidos em assuntos de segurança - possam ser apresentados, e serão evidentemente prestados", afirmou.

A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) anunciou que o Ministério Público (MP) abriu um inquérito aos incidentes ocorridos no domingo entre populares e elementos da PSP, no bairro social da Jamaica.

"Os acontecimentos deste fim de semana no Bairro da Jamaica deram origem a um inquérito, o qual é dirigido pelo Ministério Público do Seixal. No âmbito desse processo serão investigados todos os factos que cheguem ao conhecimento do Ministério Público, incluindo os relacionados com a actuação policial. Decorrem, neste momento, diligências de recolha de prova", refere uma nota publicada na segunda-feira na página da internet da PGDL.

A nota indica que, na sequência dos incidentes, "foi efectuada uma detenção, por resistência e coacção sobre funcionário", acrescentando que o "detido foi sujeito a primeiro interrogatório não judicial", o qual ficou com a medida de coacção de termo de identidade e residência.

Na manhã de domingo, a polícia foi alertada para "uma desordem entre duas mulheres", tendo sido deslocada para o local uma equipa de intervenção rápida da PSP de Setúbal. Na ocasião, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da PSP quando estes chegaram ao local, atirando pedras.

Na sequência destes incidentes, ficaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente policial, que foram assistidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada.

A PSP decidiu abrir um inquérito para "averiguação interna" sobre a "intervenção policial e todas as circunstâncias que a rodearam", da qual resultaram, além dos feridos, um detido, que saiu em liberdade.

Pelo seu lado, a associação SOS Racismo anunciou que iria apresentar uma queixa ao MP.

Na sequência destes acontecimentos, cerca de duas centenas de moradores do Bairro da Jamaica deslocaram-se, na segunda-feira, até Lisboa, para protestarem contra a actuação policial.

Quatro destas pessoas acabaram detidas pelo apedrejamento de elementos da PSP, durante o protesto, em frente ao Ministério da Administração Interna, para dizer "basta" à violência policial e "abaixo o racismo".

Poucas horas após estes confrontos, a polícia deteve uma pessoa na sequência de incidentes registados em Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião e em Santo António dos Cavaleiros, no distrito de Lisboa, onde diversas viaturas foram incendiadas e 11 caixotes do lixo foram destruídos com recurso a "cocktails molotov", segundo a PSP.

No comunicado, a PSP acrescenta que já durante a madrugada, pelas 03:15, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, foram lançados três cocktails molotov contra uma esquadra.

Na sequência destes incidentes, a PSP reforçou o dispositivo policial nas zonas abrangidas para garantir o clima de segurança e a tranquilidade e normalidade a todos os residentes.