A 4 de Janeiro de 1961 teve início uma revolta dos trabalhadores da antiga Cotonang, a multinacional com participação belga que explorava os campos de algodão da Baixa de Cassanje, em Malanje, sendo considerado o primeiro movimento de contestação ao domínio colonial português.

Nesta sublevação terão morrido centenas de trabalhadores, milhares segundo algumas fontes históricas, em confronto com os guardas da empresa, primeiro, e depois com o Exército colonial português, tendo mesmo sido o primeiro momento em que a antiga metrópole recorreu à aviação para atacar o "inimigo" em solo africano.

Esta revolta está, no entanto, envolvida em vários mistérios, sendo um dos mais conhecidos a influência de forças do antigo Congo belga, acabado de chegar à independência, e de forças com ligações ao chamado "culto de Maria", uma organização esotérica que procurou, e chegou a convencer, como relatam algumas investigações académicas, as populações residentes na área gerida pela Cotonang que balas disparadas pelos colonos brancos não matavam os à época chamados "nativos".

Apesar desta envolvência, o 4 de Janeiro marca o primeiro confronto de índole contestatária ao regime colonial, sendo mesmo considerada por alguns historiadores como o rastilho que um mês depois permitiu a "explosão" do 4 de Fevereiro, quando foram lançados ataques às cadeias de Luanda, facto considerado pelo MPLA, que chama a si esta iniciativa histórica, como o início da luta que acabaria por levar à guerra pela independência que chegaria a 11 de Novembro de 1975.

Como olha a oposição para este momento histórico?

Para o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, dada a dimensão histórica do dia 4 de Janeiro de 1961 o Governo devia considerar o acontecimento com feriado nacional.

"A sociedade civil, os políticos e a população em geral sempre defenderam o 4 de Janeiro para ser consagrado como feriado nacional. Mas por razões políticas, a data é apenas hoje uma celebração nacional", lamentou.

O vice-presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, entende que por questões políticas as autoridades complentes ofuscaram o 4 de Janeiro, apesar de ser uma data "muito importante", para dar visibilidade ao 4 de Fevereiro, que o MPLA defende ser o início da luta armada em Angola.

"Pelo que aconteceu nesse dia, a CASA-CE defende que a efeméride devia ser assinalada como um feriado e não simplesmente uma data de celebração nacional", disse.

O antigo combatente da FNLA, Mateus Senga, acredita que o novo Executivo poderá rever a Lei dos Feriados Nacionais para homenagear o 4 de Janeiro como feriado nacional.

"Os acontecimentos da Baixa do Cassanje aumentaram a consciência de liberdade dos patriotas angolanos que a 4 de Fevereiro desse mesmo ano resolveram desencadear uma luta armada contra o regime fascista português. Neste âmbito, 0 4 de Janeiro é a data mas relevante", defendeu.

O que diz o MPLA?

Na sua declaração política, o partido que sustenta governo diz que, ao celebrar-se em Angola o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, em homenagem às vítimas do Massacre da Baixa de Cassanje, em 4 de Janeiro de 1961, o Bureau Político do MPLA expressa a seu renovado reconhecimento ao Povo angolano, cujos filhos, heróicos e generosos, continuam a manter viva a chama da Independência Nacional e da liberdade.

"Cinquenta e sete anos depois desse terrível acontecimento, o MPLA considera que o melhor tributo a ser dado pela sociedade angolana aos heróis da Baixa de Kassanje é o de fazer florescer os ricos campos desta imensa Angola, cujos cidadãos e famílias são o seu primeiro e mais importante activo, em que as políticas económicas só farão sentido se contribuírem para o aumento do bem-estar do seu povo", lê-se na declaração do MPLA, que não menciona a questão da definição deste dia como feriado nacional.

A cidade de Mbanza Kongo, capital da província do Zaire, acolhe hoje o acto central do dia dos Mártires da Repressão Colonial, em cerimónia a ser orientada pelo ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos.

Os feriados e as meras datas de celebração

À luz da Lei, o 4 de Janeiro, o 2 de Março (Mulher Angolana), o 15 de Março (Expansão da Luta Armada de Libertação Nacional), o 14 de Abril (Juventude Angolana), o 25 de Maio ( África), o 1 de Junho (Dia Internacional da Criança), e o 10 de Dezembro (Internacional dos Direitos Humanos), são datas de celebração nacional e, como tal, dias normais de trabalho.

O texto considera feriados nacionais, o 1 de Janeiro (Ano Novo), 4 de Fevereiro (Início da Luta Armada de Libertação Nacional), 8 de Março (Internacional da Mulher), 4 de Abril (Paz e da Reconciliação Nacional) e o dia do Carnaval, que não é fixo. A lista inclui a Sexta-feira Santa, o 1 de Maio (Trabalhador), o 17 de Setembro (Herói Nacional), o 2 de Novembro (Finados), o 11 de Novembro (Independência Nacional), e o 25 de Dezembro (Natal e Dia da Família).