O semblante de Joana Sabina, 41 anos de idade, esconde o sentimento de frustração que, indiscutivelmente, toma conta de quem perde o emprego, e logo na função pública, o sector que alimenta o sonho de milhares de angolanos à espera dos prometidos 500 mil postos de trabalho.

Afastada do Hospital Municipal de Benguela, na sequência de conflitos laborais que colocaram vários enfermeiros no desemprego, há quatro anos, Sabina cedo percebeu que seria inútil andar de lamúrias em lamúrias.

Assim é que, alegre, está na periferia da cidade das acácias rubras, ao lado de dezenas de mulheres, na venda de pedras, areia e brita, três produtos que os cidadãos adeptos da autoconstrução dirigida não dispensam.

A técnica de saúde "emprestada" à venda de inertes é uma mulher aparentemente alegre não porque o negócio dê altos rendimentos, mas pela necessidade de sobrevivência.

"Vendo areia e brita, mas nem sempre temos clientes, o dinheiro dá para um bocadinho, só para comprar alimentos", diz a senhora, que vê na comparticipação do marido nos gastos com a escola dos filhos "um grande alívio".

À semelhança das colegas, faz mais de dez horas diárias, entre às 6 e às 17, ciente de que "há dias sem clientes".

Como que a confirmar esta versão, a mais-velha Teresa Ndjaúca considera que a actividade não é rentável para quem aplica 12 mil kwanzas num camião de areia e 25 mil na aquisição de brita, dois inertes extraídos na «Mina», uma área que fica a alguns quilómetros do local de venda.

Ndjaúca, há um ano nesta empreitada, conta que as mulheres são obrigadas a juntar dinheiro para "pegar o negócio", do qual conseguem lucros nunca superiores a cinco mil kwanzas.

"Vendemos a areia a 1.200 kwanzas o monte, a brita um pouco mais, mas isto não dá para nada, continuamos pobres e a pensar em desistir", confessa a cidadã, mãe de quatro filhos.

Também Joana Cassinda, auxiliada pela filha na venda deste material, afirma que o dinheiro quase não chega para nada, nem para duas ou três refeições em dias consecutivos.

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