A escassez de medicamentos nos centros de saúde de Luanda aparenta estar longe de chegar ao fim e na farmácia do centro de saúde do bairro Terra Nova (Beiral), por exemplo, existem apenas anti-retrovirais para tratamento do HIV/Sida.

O Novo Jornal Online verificou junto das farmácias dos centros de saúde da Terra Nova "Beiral", bairro Operário "BO" e Samba 1, nos "Cajueiros", para além de medicamentos, faltam também luvas, compressas, seringas e algodão.

De acordo com uma fonte do centro de saúde da Terra Nova que preferiu falar sob anonimato, não existem outros medicamentos no Beiral para além de antirretrovirais.

"Só recebemos medicamentos de três em três meses. Neste momento estamos quase a completar quatro meses sem receber medicamentos", assegurou a fonte.

A mesma fonte disse ainda que o centro da Terra Nova necessita de intervenção urgente das autoridades.

"A situação está muito complicada. Não temos medicamento para a malária, soro nem analgésicos, por esse motivo somos obrigado a alertar os pacientes para adquirirem medicamentos na rua", sublinhou.

No centro de saúde de Bairro Operário BO, o cenário é mesmo de permanente agitação e barrulho no banco de urgência, onde dezenas de pessoas esperam constantemente para serem atendidas.

Juliana Pacavira foi ao centro do BO com a filha febril e passadas mais de quatro horas ainda não tinha sido atendida.

"Estou sem saber o que fazer, desde que cheguei as enfermeiras estão a mandar-me aguardar, tem pessoas que me encontraram e já foram atendidas", lamentou, acrescentando que a maioria das pessoas que estão a ser atendidas estão apagar a quantia de 1.000 a 2.000 Kwanzas.

Entretanto, no hospital dos Cajueiros ficou visível a enchente no portão e a correria por todo lado.

Madalena Sebastião, idosa de 63 anos, disse ao Novo Jornal Online que deu entrada há mais de uma semana com o neto no banco de urgência e teve de comprar todos os fármacos na rua para medicarem o neto.

"Todas as minhas economias acabaram, a médica que esta a assistir o meu neto disse que o stock da farmácia do hospital acabou e aconselhou-me a comprar medicamentos na rua para que o meu neto fosse atendido", afirmou a idosa.

"O meu irmão está internado há três dias. Para ser socorrido os medicamentos saíram da rua inclusive seringas, porque o mesmo não dispunha de tais medicamentos", lamentou Manuel Quipete.

O Novo Jornal Online tentou contactar a Direcção Provincial de Saúde de Luanda sem sucesso.

No entanto, como tem sido noticiado nos últimos meses, a falta de medicamentos nas unidades de saúde públicas tem sido constante, havendo mesmo suspeitas de que esta escassez abriu as portas para um lucrativo negócio de venda de medicamentos no mercado negro.

A confirmação de que este é um negócio que existe à porta dos hospitais ocorreu quando, no dia 17 de Maio último, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) deteve dois cidadãos chineses que se dedicavam a comercializar no mercado paralelo largas quantidades de medicamentos contrafeitos ou fora de prazo de validade, constituindo uma séria ameaça à saúde pública.